Presente de fim de ano e começo de outro, digamos que uma análise urbana! Após três discos, “Canções de Apartamento” (2011), “Sábado” (2013) e “A Praia” (2015), o compositor e produtor carioca, de Santa Cruz, Cícero Rosa Lins lançou, no dia 8 de dezembro, com selo Sony Music, seu quarto trabalho de inéditas intitulado “Cícero & Albatroz” ao lado de Gabriel Ventura (banda Ventre); Fellipe Pacheco e Cairê Rego (Baleia); Uirá Bueno (Nos Cafundós) e do Bloco do Sargento Pimenta, Bruno Schulz, Vitor Tosta e Matheus Moraes. “A Cidade” foi a primeira faixa a ganhar clipe, que bateu 400 mil visualizações em uma semana.
No próximo dia 13 a banda formada por membros de outras bandas do cenário carioca faz o show de estreia no Circo Voador no Rio de Janeiro.
Conforme o cantor, neste trabalho, suas composições encontraram na personalidade de cada membro da banda um novo olhar. Gravado no antigo estúdio 304, o quarto disco do produtor carioca trás uma sonoridade rica em detalhes, dando um passo a frente em sua obra ao mesmo tempo em que afirma sua forma de pensar música.
Cícero menciona que a banda foi ganhando personalidade própria ao longo dos anos. Segundo ele, ao contrário de seus outros discos, em que ele produziu tudo essencialmente em casa, gravando e editando suas ideias, em “Cícero & Albatroz” as músicas ganharam vida em ensaios, em conversas, na troca entre os amigos. “A principal diferença é pelo fato de ser um trabalho de banda, em que fizemos juntos o tempo todo. Um trabalho pensado para shows/apresentações ao vivo. Nos outros, chamava um amigo ou outro para gravar algo”, comenta o artista.
Cícero diz que atualmente tem lugar para todos os gêneros, “o que acontece é que as possibilidades se tornaram inúmeras, antes existia um funil, hoje todo mundo tem a oportunidade de tentar. Os mecanismos para se chegar até o público, os canais de divulgação, o acesso a tecnologia são amplos”, destaca.
“A principal diferença é pelo fato de ser um trabalho de banda, em que fizemos juntos o tempo todo. Pensado para shows/apresentações ao vivo. Nos outros, chamava um amigo ou outro para gravar algo”
Cícero,
cantor
“A Cidade”
Compositor de primeira, das dez músicas do disco, nove são de Cícero e uma, “A cidade”, em parceria com o produtor nova-iorquino radicado em São Paulo, Victor Rice. "Aurora n°1”, título da música que anuncia o disco com “a luz de um novo dia”, abre os caminhos para diferentes lugares de uma cidade que pode ser qualquer uma, mas em um tempo que só pode ser o agora. As letras e arranjos criando lugares como “A ilha” que se encontra “cabeça adentro”, ou em faixas como “Não se vá” e “À deriva”, sobre encontrar o lugar no outro.
“A Cidade” cria de forma direta uma imagem dos dias atuais nas grandes cidades. O arranjo que soa como buzinas desencontradas, a cadência de um samba sobre uma harmonia entroncada, somados à letra de melodia e métrica sem ciclos claros, confunde, assim como a cidade, os sentidos e cria imagens reconhecíveis por todos.
Um carro tombado em frente ao Tribunal Regional do Trabalho do Rio de janeiro e Cícero deitado ao lado. Todas as interpretações possíveis levam ao mesmo sentimento de desconforto que o instrumental e letra trazem. Uma primeira música de trabalho improvável por não ser pop, mas necessária por ser real.
“As possibilidades se tornaram inúmeras, antes existia um funil, hoje todo mundo tem a oportunidade de tentar. Os mecanismos para se chegar até o público, os canais de divulgação, o acesso a tecnologia são amplos
Cícero,
cantor
Lado B do disco
Começa com a leve e confessional “Velho sítio”. Sitio sem acento mesmo, sinônimo de lugar, como no português lusitano. E assim como na poética portuguesa, a letra, em clara dicção, constata, frente ao ouvinte, o escritor.
Após dizer o que entendeu até aqui, Cícero cria em “A rua mais deserta” e em “A grande onda” um realismo fantástico que não é tão fantástico nos dias atuais. “Os postes a luzir” dos moleques que cheiram solvente ou a ilusão dos ansiolíticos e anfetamínicos pintam, de lados opostos, o mesmo quadro.
“Aquele adeus” se apresenta como uma daquelas músicas que existiu desde sempre. A função no mundo de uma canção assim é a de elevar o emocional ao íntimo indispensável sobre amar.
“Um arco” encerra os pouco mais de trinta minutos do disco com o verso “não vá deixar sair seu lugar de ti”, antes de transformar as discretas guitarras limpas sob tambores macios em uma estridente profusão de sons em acordo e desacordo, assim como todos nós.
A CIDADE
A verdade anda só
No meio da rua
Não devia ser, mas é
Tudo continua igual
Tudo continua
A cidade e o redor
A menina nua
A cabeça assimilando
Tudo continua desmoronando
Amanhã o dia amanhecerá
Foi e é assim desde sempre
O mesmo desespero a desesperar
A mesma alegria a alegrar
Repetindo repetidamente
Amanhã o dia amanhecerá
E anoitecerá
Um dia breve no cimento
Em algum lugar
Em meio à confusão
Só resta esperar
De pé na condução
Um dia breve no cimento
Um dia alegre no cimento
AGENDA DE SHOWS
13 de janeiro - Circo Voador, Rio de Janeiro (RJ)
20 de janeiro - Cine Jóia, São Paulo (SP)
10 de março - Opinião, Porto Alegre (RS)
17 de março - Palladium, Belo Horizonte (MG)
24 de março - Teatro CIC, Florianópolis (SC)
14 de abril - Gasômetro, Belém (PA)
05 de maio - Sesi, Goiânia (GO)