Buscar a comunhão

OPINIÃO - Sandro Rogério dos Santos

Data 23/04/2018
Horário 08:11

Sinto-me um pouco repetitivo nos assuntos e nas expressões usadas neste espaço semanal, mas como noticiário e clima nacionais não parecem dar trégua encontro argumentos para repetir-me. Há polarização em praticamente todas as relações. Afirmar “a” soa como negar “b”. O clima de fla-flu do futebol deixou as arquibancadas, saiu pelas ruas, incendiou os debates(?) político-partidários, adentrou aos tribunais —vide o comportamento dos supremos ministros do país; do que se vê do lado de cá vivem às turras uns com os outros e partidarizados, armando estratégias para lograr vitórias nem sempre da justiça, mas das suas causas particularizadas.

Se as pessoas que estão nos estádios são as mesmas que estão nas ruas, seria estranho pensar que não sejam também as mesmas nas famílias, nos locais de trabalho e nas comunidades religiosas. Sentimos os efeitos, nem sempre conseguimos nominar as causas. Ora, por não termos coragem de encarar a realidade tal qual é, ora, por estarmos tão mergulhados nos fatos que nos impossibilita de qualquer leitura ‘isenta’ de paixão e ideologia em estado puro. Mas, repito, os efeitos estão aí, são sensíveis. Há enormes ‘estragos’ na convivência outrora harmoniosa entre as pessoas.

Há alguns meses, esse clima alimentado e disseminado por redes sociais tornou alvo a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Visto que na sexta-feira passada (20) se encerrou a sua 56ª Assembleia Geral, algumas pistas e posturas merecem destaque. Pelo histórico mais engajado socialmente —“A fé age pela caridade” (Gl 5,6)— a CNBB é tida especialmente pelos tradicionais como uma espécie de “sindicato de bispos”. Fazem dela uma leitura com categorias sociológicas e na ânsia de uma pureza religiosa acabam afetando a comunhão. Questionam fora, como que a forçar uma cobrança de fora para dentro, ao invés de procurarem as autoridades eclesiásticas e com estas entabular discussões francas e fraternas.

Nesse sentindo, a Mensagem da CNBB ao Povo de Deus recorda a existência das Conferências Episcopais como “expressão da catolicidade e unidade da Igreja” e que a sua missão está em consonância com a Santa Igreja —nem poderia ser diferente, pois são todos bispos legitimamente eleitos, nomeados e em comunhão com o Santo Padre—. As ações isoladas de pessoas da Igreja (mesmo de eclesiásticos) destoadas da fé católica não devem ser atribuídas à entidade colegiada. Citando o Papa Francisco, os bispos alertam: «para discernir a verdade, é preciso examinar aquilo que favorece a comunhão e promove o bem e aquilo que, ao invés, tende a isolar, dividir e contrapor» (52º Dia Mundial das Comunicações 2018).

“A CNBB não se identifica –afirmam os bispos– com nenhuma ideologia ou partido político. As ideologias levam a dois erros nocivos: por um lado, transformar o cristianismo numa espécie de ONG, sem levar em conta a graça e a união interior com Cristo; por outro, viver entregue ao intimismo, suspeitando do compromisso social dos outros e considerando-o superficial e mundano”. Os bispos brasileiros afirmam: “queremos promover o diálogo respeitoso, que estimule e faça crescer a nossa comunhão na fé, pois, só permanecendo unidos em Cristo podemos experimentar a alegria de ser discípulos missionários”.

Quanto mais as pessoas conseguirem argumentar sem descartar, não apenas emitir opinião, procurar a verdade e o bem comum e não somente a defesa da bandeira do seu grupo singular, mais conseguiremos ajudar a sociedade a distender as tensões atuais. Apenas o sincero desejo de vida em comunhão poderá suplantar os partidarismos de agora e de sempre. Que os nossos olhos continuem fixos no Senhor, nosso único motivo para viver numa comunidade de fé.

Seja bom o seu dia e abençoada a sua vida. Pax!!!

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