A Receita Federal de Presidente Prudente recebeu 27.203 declarações de imposto de renda no município. A previsão total de recebimentos é de 45.072, o que mostra que apenas 60,35% já foram efetuadas, sendo que o prazo para a entrega se encerra na segunda-feira. Como sempre, o brasileiro deixa para última hora a resolução de suas pendências. A negligência da população com o fisco se revela também no discurso comum que está na “boca do povo”, quando os questionamentos sobre excesso de impostos pagos são usados desonestamente em defesa de sonegação de impostos, como se fosse possível justificar a execução de um crime, ainda que não seja um atentado direto à vida do outro.
A população precisa compreender que de nada adianta demonstrar revolta apenas na hora que descobre o valor a ser pago por meio da declaração, e limitar sua indignação a esse momento sazonal. Não se trata apenas da quantidade de impostos pagos, visto que uma nação continental que se propõe a universalizar a educação, o saneamento e o acesso à saúde tem despesas infinitamente maiores do que outros locais, tidos como “primeiro mundo”, mas que não se propõe a arcar com esse tipo de responsabilidade social – que devemos lembrar sempre, é muito nobre.
Se o brasileiro soubesse fiscalizar o uso do recurso público, ele sentiria o impacto no bolso. Com educação e saúde de qualidade, não precisaria despender de seu orçamento para um plano da iniciativa privada ou uma escola particular. Com transporte público decente, não seria preciso pagar tanto em impostos sobre a propriedade de um veículo e as despesas provenientes desse bem, desde gasolina a manutenção e eventuais imprevistos. Com programas governamentais que garantem acesso à moradia em seu pleno funcionamento, sem engessamento, seria possível despender menos em aluguéis.
O que falta, portanto, é uma análise sincera e com distanciamento do panorama, do cenário por completo. Mas é mais cômodo e exige menos esforço intelectual olhar fragmentos de realidade e simplificar problemas que são complexos, buscar bodes expiatórios, medidas paliativas e resultados a curto prazo, que só funcionam para fins eleitoreiros. No fim das contas, o brasileiro precisava mesmo era compreender o que é uma verdadeira democracia, que se revela nas decisões mais importantes e de impacto direto na vida do povo e não apenas uma vez a cada quatro anos, com o aperto de um botão. A essa altura do campeonato, já deveríamos saber qual nociva e altamente corrupta é a concentração de poder em uma figura ou em um grupo. O sistema representativo funciona, mas não substitui a capacidade de tomada de decisões democráticas, pela massa.