Bate-Papo no Sesc aborda discussão de gênero nas escolas

Conversa, que reúne travesti e autora do livro autobiográfico junto com a doutora Arilda Ribeiro, ocorre nesta quinta-feira (5), às 19h30

VARIEDADES - Da Redação

Data 05/07/2018
Horário 08:55
Divulgação/Sesc Thermas - Amara Moira é doutora em teoria e crítica literária pela Unicamp
Divulgação/Sesc Thermas - Amara Moira é doutora em teoria e crítica literária pela Unicamp

“Uma puta autora”. Poderia ser apenas um advérbio de intensidade para descrever Amara Moira, mas é a definição literal da travesti, prostituta e autora do livro autobiográfico “E Se eu Fosse Puta”, que participa no Sesc Thermas de Presidente Prudente do bate-papo Discussão de Gênero e Sexualidade nas Escolas, nesta quinta-feira (5).

A conversa, com início às 19h30, também conta com a presença de Arilda Ines Ribeiro, doutora em História da Educação pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), professora de pós-graduação em Educação da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e criadora do grupo Nudise (Núcleo de Diversidade Sexual na Educação). Tudo com mediação da mulher transexual Walleria Sury, fundadora do Grupo Somos LGBT, em Presidente Prudente.

Além de escritora, Amara Moira é doutora em teoria e crítica literária pela Unicamp. Ela foi a primeira pessoa transgênero na instituição a defender um doutorado usando o nome social, de acordo com a própria Unicamp. No encontro, as convidadas falam sobre a importância da discussão de gênero nas escolas, além das formas de abordagem e as barreiras existentes para a viabilização do debate.

Para Amara, falta apoio para que ocorra a discussão sobre gêneros nas escolas, mesmo diante de uma pesquisa realizada em 2017, pelo Ibope, apontando que 84% dos brasileiros concordam totalmente ou em parte que os professores discutam sobre a igualdade entre os sexos com os alunos. “Até desconfio dessa estimativa, uma vez que estão sendo criadas cada vez mais frentes para inviabilizar esse debate nas escolas e, junto com isso, manter esse espaço como um espaço de segregação, de reprodução de violência contra grupos oprimidos”, explica.

Para a escritora, o que pode explicar o dado de que o Brasil é o país líder em assassinatos a pessoas LGBT é a cultura de sua sociedade. “Nossa simples existência é entendida como uma ameaça por parte de uma sociedade que se acostumou às formas que lhe foram impostas, ao jeito “certo” ser homem e mulher, às maneiras aceitáveis de viver o afeto. É algo que se percebe, por exemplo, quando nos damos conta que criamos nossos filhos não apenas para serem heterossexuais, como também para terem medo de sequer imaginar outra coisa”, argumenta.

Livro

Ela ainda conta como nasceu a ideia de escrever um livro com suas experiências como prostituta e fala sobre seu processo de produção. “Fala-se de prostitutas desde o começo dos tempos, mas curiosamente é raro encontrar algum livro em que sejamos nós mesmas quem escreve a narrativa. Quando comecei minha transição, há quatro anos, estava apavorada com a ideia de ter que abrir mão da vida que eu vinha construindo e precisar virar prostituta, mas à medida que eu conhecia as pessoas que me precederam, que lutaram todos esses anos para que hoje eu pudesse me assumir Amara, comecei a olhar com outros olhos para a prostituição”, esclarece.

O passo determinante para a ideia de o livro ser colocada em prática, primeiro, foi dado na internet. “Comecei então um blog onde eu contava os meus primeiros passos na rua, as minhas experiências e perspectivas, convidando as pessoas a verem o mundo pelos nossos olhos. Depois de quase dois anos, com a visibilidade que o blog conseguiu, acabou surgindo um convite para publicá-lo e, de maneira inesperada, acabei descobrindo que a prostituição me fez virar a escritora que eu sempre sonhei ser”, comemora.

Semana da Diversidade

A atividade integra a programação da Semana da Diversidade LGBT, realizada pelo grupo Somos LGBT de Prudente, com apoio cultural do Sesc São Paulo. De 1 a 8 de julho, o evento promove diversas atividades que colocam em pauta a tolerância e o respeito entre as diferenças sexuais e de gênero. O objetivo é estabelecer a empatia e estimular o exercício da cidadania por meio de espetáculos, oficinas, palestras e debates.

Ao final da programação da Semana da Diversidade, no sábado (7), o Sesc Thermas recebe uma banda que traz temas contundentes e letras intensas – características de rock. Com músicas que se apresentam como um grito de força, a banda Mulamba sobe ao palco da Área de Convivência a partir das 18h.

Formada por Amanda Pacífico (voz), Cacau de Sá (voz), Caro Pisco (bateria), Fer Koppe (violoncelo), Naíra Debértolis (baixo) e Nat Fragoso (guitarra), o grupo nasceu em dezembro de 2015, com a proposta inicial de fazer um tributo a Cássia Eller. Com o clipe de “P.U.T.A.”, música autoral, alcançou mais de 700 mil visualizações e 15 mil compartilhamentos.

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