Baixa procura mantém setor cerâmico estagnado

Segundo Incoesp, situação é atribuída à paralisação das obras da construção civil e do esfriamento do mercado consumidor

PRUDENTE - ANDRÉ ESTEVES

Data 01/02/2018
Horário 10:31

O ano começou com muitas olarias e cerâmicas paradas ou com baixa produtividade na região, aponta o diretor da Incoesp (Cooperativa das Indústrias de Cerâmica do Oeste Paulista), Milton Salzedas. De acordo com o representante, embora a situação possa ser atribuída às chuvas recentes, a principal justificativa é a paralisação das obras de construção civil e, consequentemente, o esfriamento do mercado consumidor. Ele conta que, desde dezembro de 2017, muitas empresas do segmento interromperam a produção, não sendo possível afirmar se isso ocorreu em decorrência das festas de final do ano ou porque as condições estão desfavoráveis. O enfraquecimento desse setor já é uma realidade que acontece há anos, conforme acompanhado por este periódico. Entre as principais dificuldades relatadas estão a alta concorrência com outras regiões do Estado, a queda das vendas, a deficiência na logística de transporte e as altas nas contas de energia. Com isso, muitos proprietários se veem obrigados a fechar as portas.

Para o dono de uma cerâmica em Indiana, Marcos Gimenes, 40 anos, 2017 é um ano que merece ser esquecido. Para não deixar o negócio parado, ele já retomou as atividades, mas de forma morosa. Isso porque o estoque do ano passado ainda está “estacionado” no local. Segundo o comerciante, são três meses de produção ainda não escoados, o que representa uma soma de 3 mil tijolos sem destinação. O problema maior não está na matéria-prima, que, ao seu ver, é “abundante na região”, mas justamente na crise econômica, que afetou drasticamente o segmento. Ainda que o desejo de Marcos fosse ter aumentado a produtividade e gerado mais empregos no ano passado, ele se viu de mãos atadas. O caminho foi, na realidade, inverso: precisou cortar o quadro de funcionários pela metade. Se antes eram oito homens trabalhando na cerâmica, hoje são quatro.

A situação difícil já deixa o comerciante sem perspectivas. O negócio que ajuda a comandar é uma herança de seu avô, a qual corre o risco de ser dissolvida se não houver recuperação até depois do carnaval. “Esse foi um legado deixado para os netos, mas tive dois primos que já desanimaram e mudaram de profissão. Tiveram que abandonar um negócio de família para poderem ter estabilidade financeira. Se eu não sentir melhora, também vou pular de ramo, porque não consigo ir mais para frente”, expõe. Marcos explica que, geralmente, o mês de dezembro é mais desfavorável por se tratar da época em que muitas construções estão em fase de conclusão – etapa na qual a cerâmica já não é mais demandada. Contudo, a baixa procura pelas mercadorias em 2017 se estendeu durante o ano todo e não somente no último mês.

O ajudante Cícero Balbino da Silva, 31 anos, veio de Pernambuco para o Estado de São Paulo em busca de melhores condições de vida, mas teme o futuro do segmento onde conseguiu se fixar. “Como agora está parado, a gente tem de ficar inventando serviço”, aponta. Caso o setor não reaqueça e o negócio seja encerrado, ele acredita que terá que buscar outro emprego, uma vez que o trabalho é a fonte de renda da sua família.

 

Irregularidades

No ano passado, este diário noticiou que, entre 2014 e 2016, caiu de 150 para 80 o número de olarias e cerâmicas ativas na região, conforme balanço realizado pela Incoesp. Os dados referentes a 2017 ainda não foram fechados. Um fator que contribuiu para o fechamento das empresas foi o fato de grande parte delas possuir irregularidades ambientais, ausência de licenciamento e emissão descontrolada de poluentes. Milton menciona que há ainda uma ação movida pelo MPT (Ministério Público do Trabalho) que questiona as condições de trabalho oferecidas aos funcionários desse ramo. “Nós temos conhecimento sobre essas ações civis públicas e todas as empresas estão buscando se adequar ao que é proposto”, comenta o representante.

Para o comerciante Marcos, tornam-se necessárias medidas que garantam mais segurança aos trabalhadores. “Aqui, em Indiana, o nosso negócio é mais simples, mas, em Panorama, eles utilizam maquinário grosso, que exige mais cuidado”, enfatiza. No início do mês, um homem de 51 anos, que teve um dos seus braços amputados enquanto trabalhava em uma empresa de cerâmica de Panorama não resistiu aos ferimentos e faleceu no HR (Hospital Regional) Doutor Domingos Leonardo Cerávolo, onde estava internado em estado grave desde o dia 13 de dezembro.

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