Assuntos que (des)animam

OPINIÃO - Sandro Rogério dos Santos

Data 30/09/2018
Horário 04:25

Meu Deus! Tanta coisa acontecendo no mundo, e no quintal de casa, e eu sem saber o que dizer. Não sei sobre o que devo escrever. Fico atento ao que as pessoas conversam. Arrisco-me até a ler alguns comentários em sites de jornais/notícias, rádios e (santo Deus!) nas redes sociais. Deve ser bem mais feliz que eu o homem desprovido de conexão virtual e enturmado em sua família lá nos rincões do planeta (por aqui ou por ali). Há quase um sufocamento, uma angústia aguda em quem procura acompanhar e entender os movimentos sociais da atualidade.

Não raro, sinto-me tentado a desistir de tentar entender, de refletir a respeito, de procurar manter-me atualizado das notícias (mundo, política, economia, religiões...). Até agora, venci essa tentação. Mas, confesso, não sei até quando. Na comunidade, quando nos damos a falar do chão da casa, das coisas miúdas que ocupam as pessoas, há tanto desencontro e desencanto. Há excessiva intolerância, verdades verdadeiras “para-sempre-amém” que impossibilitam qualquer mísero diálogo. Eu queria falar sobre as eleições. A campanha eleitoral está chegando à reta final. Todos falam com vivas ânsias sobre os “presidenciáveis” e quase ignoram os “governáveis”, os “senatoráveis” e “deputáveis” (desculpe-me pelo gracejo).

Vez ou outra, meditando a Palavra de Deus, procuro ouvir o que o Senhor tem a nos dizer... ora, penso que Ele se calou e silencioso permanece olhando a confusão estabelecida entre nós, ora, penso que já não consigo mais distinguir/reconhecer o som de sua voz em meio à balbúrdia da multidão insana a gritar para, no grito, tentar ganhar. E me sinto angustiado porque tento encontrar no deserto a voz que grita e o dedo que indica o verdadeiro e não o caminho de ocasião pelo qual segue a manada irrefletida.

No dia 26 de setembro, o papa Francisco publicou no Twitter: “Rezemos para que no mundo prevaleçam os programas de desenvolvimento e não aqueles para os armamentos [nucleares].” O sistema de comunicação vaticano divulga as mensagens do papa em várias línguas. A mesma mensagem para o mundo inteiro. Por primeira vez, atentei aos comentários dos seguidores pontifícios. Um horror. Os brasileiros favoráveis ao armamento da população foram “bater-boca” com o perfil de Francisco, taxando-o de comunista para mais. #VergonhaAlheia!

Na sua 25ª viagem apostólica, Francisco foi aos três países bálticos. Na Lituânia, ele fez um alerta sobre o avanço de ideologias totalitárias. Lembrou que o próprio país já sofreu com os nazistas, onde morreram milhares de pessoas por maus-tratos, doenças, fome ou deportadas para campos de concentração. Numa missa para mais de 100 mil pessoas na cidade de Kaunas, pediu que os fiéis tenham “discernimento para detectar a tempo qualquer reaparecimento dessa atitude perniciosa, qualquer sopro daquilo que pode manchar os corações de gerações que não viveram aqueles tempos e podem ser engados por cantos de sereia”.

O papa também falou dos anos em que o país fez parte da União Soviética e, segundo estimativas, 50 mil lituanos morreram em campos de trabalho, prisões ou durante deportações. “Quantas vezes aconteceu de um povo acreditar ser superior, com mais direitos adquiridos, com mais privilégios a preservar ou conquistar?”, questionou à multidão. Na exortação apostólica “Alegrai-vos e exultai”, Francisco afirmou que defender os mais pobres e acolher migrantes não é “comunismo”, mas uma maneira de santificação. “É nocivo e ideológico o erro das pessoas que vivem suspeitando do compromisso social dos outros, considerando-o algo de superficial, mundano, secularizado, comunista, imanentista, populista”. O papa continua a sua missão. Nós, cidadãos, a nossa. Com fé, esperança e ânimo, sempre! Seja bom o seu dia e abençoada a sua vida. Pax!!!

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