Aprendeu na internet: seu Manoel produz aliança com moeda antiga

Manoel Lourenço de Souza - ARTESÃO

VARIEDADES - THIAGO MORELLO

Data 20/08/2019
Horário 08:07
Thiago Morello - Aos 72 anos, caminhoneiro aposentado decidiu dedicar a vida a uma atividade totalmente diferente do costume: o artesanato
Thiago Morello - Aos 72 anos, caminhoneiro aposentado decidiu dedicar a vida a uma atividade totalmente diferente do costume: o artesanato

Depois de 53 anos trabalhando como caminhoneiro, nas estradas afora, o aposentado Manoel Lourenço de Souza, 72 anos, decidiu dedicar a vida a uma atividade totalmente diferente do costume: o artesanato. Mais diferente ainda pelo fato ser algo que também foge o cotidiano de todos: a arte de fazer alianças a partir de moedas, e de preferência, as mais antigas, como ele mesmo diz. Há dois anos na prática, ousado, aprendeu na raça, vendo vídeos no YouTube, mas também tendo o auxílio do cunhado, que já realizava o feito. E ao longo desse pouco tempo, ele coleciona histórias...

O Imparcial: Com quem aprendeu a arte de produzir joias?

Manoel: Eu aprendi na internet mesmo, no YouTube, né? A gente foi olhando e foi fazendo, até que eu aprendi. Eu sempre tive essa vontade e uma hora decidi começar. Eu tive a influência do meu cunhado também que fazia, mas hoje não faz mais. Então, eu fui lá, ele me indicou as ferramentas que eu deveria comprar e me aperfeiçoei. Mas antes eu trabalhava com caminhão, era motorista, totalmente diferente de hoje. E agora eu ocupo meu tempo, porque pra mim é muito bom, ocupa a cabeça. Eu não vou mais trabalhar com algo pesado. Mas foram mais ou menos uns quatro ou cinco meses vendo vídeos e treinando até pegar o jeito mesmo. E no começo era difícil demais, mas fui pegando o jeito.

Esta é uma profissão antiga, que ganhou suas adaptações. Como o senhor se denomina?

Não sou um ourives. Eu me trato como um artesão. Até porque para mexer diretamente com ouro, são outros maquinários. E prefiro ser tratado dessa forma, porque as pessoas vêm aqui e pedem para eu trabalhar mesmo com aquilo que sou especializado, que é a aliança feita a partir da moeda. E até porque não levo isso como um trabalho, mesmo não deixando de ser, pois eu faço por gosto, por hobby, mas que ao mesmo tempo me traz uma renda extra. Mas hoje em dia eu vejo que é pouca gente que faz também. Se aperfeiçoar nesse tipo de serviço é raro.

Como é o perfil da clientela e ele mudou ao longo do tempo?

Tem gente de muitos lugares que a gente faz. Se eu fosse fazer o tanto de cliente que pergunta sobre o trabalho e se interessa, tem mais de um mil seguidores, digamos assim. E isso é de uns quatro meses para cá. É porque antes eu não divulgava, mas agora tenho uma página, onde coloco foto dos meus trabalhos feitos já. Mas eu atendo muita gente, e principalmente em época de Dia dos Namorados, por exemplo. Mas vem gente de todo o tipo. Também faço para minha família, fiz das minhas filhas, e por ai vai. O perfil é bem variado. E eu faço assim, em casa. As pessoas vêm, a gente conversa, eu mostro, e combinamos tudo. Diariamente tem demanda. Já até recebi proposta de empresas e lojas para eu fazer alianças pra revendas, mas não tenho interesse.

Qual é o passo a passo utilizado pelo senhor na hora de produzir as alianças?

Quando alguém chega, a primeira coisa que eu faço é mostrar as larguras que existem, com os modelos que tenho pronto já. Ai é o seguinte, eu pego a moeda e faço tudo manualmente. Primeiro eu esquento ela e depois coloco na água. Em seguida a gente leva a moeda para a prensa, onde é colocada uma bolinha no meio da moeda, conforme a largura que o cliente quer. Nisso, a prensa vai fazer um buraco no meio e vai forçando para moldar num formato de cone. Ai depois é tudo na mão, vai moldando de um lado, do outro, forçando na lima, até que o formato fique redondo mesmo, de uma aliança.

O senhor contou que utiliza somente moedas, e antigas. Como as adquire?

Eu compro pela internet. Aqui é muito difícil de achar. É mais fácil em Minas Gerais. E eu compro bastante, já pensando nisso. Hoje tenho mais de 500 aqui. Vou abastecendo conforme o estoque, porque não é fácil de achar. Cada moeda dessa é R$ 23, de 1.822. E quanto mais velha melhor. Tenho aqui de 1946 pra trás, depois disso não existe. Cheguei até a utilizar outros materiais, mas precisa de um maquinário mais específico, que é mais caro, porque existe só nos Estados Unidos. Mas pra mim não compensa. Fica mais fácil e dá menos trabalho. Eu quero e gosto de ter o trabalho de fazer, o capricho. Cada aliança que eu faço eu olho assim e penso: puxa vida, como é que eu fiz? Eu mesmo admiro meu trabalho. E são só alianças. Eu tenho até uma clientela que vem pedindo pra fazer anel, colar, mas eu não faço não.

Cada aliança que eu faço eu olho assim e penso: puxa vida, como é que eu fiz?

Nesses dois anos fabricando alianças, quais foram as histórias de noivos, namorados e entre outras pessoas que mais marcaram o senhor?

São muitas histórias, muitas pessoas que já passaram por mim e me pediram pra fazer. Não consigo lembrar de nenhuma em específico. Mas me marca muito o fato deu ouvir de muitos clientes que deixaram de comprar um par de alianças de ouro e vieram comprar comigo. Eles falam que é bem mais legal comprar uma peça que tenha história, que fale por ela e que dura bastante. E a qualidade é superior, porque não fica preta, pensando nas bijuterias e dura mais.

Você pensa em ensinar alguém?

Se alguém aparecer e quiser aprender, assim, o que seu eu sei eu vou repassar, eu ensino sim. Sem sombra de dúvidas. Até porque hoje em Prudente, até onde sei, eu sou o único que faz isso. Tinha um senhor que fazia, mas ele foi embora para Campo Grande [MS].

Qual a parte mais satisfatória desse trabalho?

Quando o cliente chega aqui, pega a aliança na mão e fala: puxa vida! Eu sou daqueles que não gosta muito de ser elogiado na frente dos outros e tudo mais. Mas é legal ver elogiando o material feito, principalmente quando falam que ficou bonito demais. A gente fica satisfeito, fica contente com o resultado.

Para quais locais o senhor já fez?

Já fiz bastante aliança para cidade do Paraná. Algumas cidades do pontal, como Rosana, Tupi Paulista, Panorama, Dracena. Inclusive já fiz até para Portugal. O cara não pediu de lá, mas ele estava aqui e me falou que queria levar um par de alianças embora. Estados Unidos também, e olha que lá também tem as máquinas para fazer. E eu fico muito contente. É bom ver o trabalho reconhecido.

 

 

 

 

 

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