Após empréstimo, lar pede auxílio para doações

Entidade prudentina obteve crédito de R$ 200 mil para organizar débitos e teme não conseguir arcar com alto valor da parcela

PRUDENTE - SANDRA PRATA

Data 05/05/2018
Horário 12:20
José Reis - Entidade social existe na cidade desde 1969; entre abrigo e assistência, atende 185 crianças
José Reis - Entidade social existe na cidade desde 1969; entre abrigo e assistência, atende 185 crianças

Quem é prudentino de raiz ou vive na cidade nos últimos 58 anos, com certeza já ouviu em algum momento o nome Lar Santa Filomena. A entidade sem fins lucrativos abriga crianças em situação de adoção e desenvolve projetos para menores com baixas condições financeiras. Localizado na Rua Luís Carlos Ferrari, no Jardim Itapura I, em meio a uma boa área verde, retrata realmente o significado da cor: esperança. A luz do sol que entra pelo portão de entrada já diz o que se pode encontrar ali, simplicidade, muita felicidade e grandes corações acalorados como a própria luz. Mas, até quando essa realidade vai estar difusa na sociedade?

Com uma situação financeira não tão bonita quanto às inciativas sociais, o lar enfrenta um momento difícil de manter os projetos e o sorriso no rosto das 185 crianças que dividem a biblioteca, a piscina, a sala de informática, a quadra de esportes e, principalmente, as refeições diariamente.

Sinônimo de casa para 35 crianças abrigadas e destino de outras 150 que trocaram as ruas por momentos de diversão e aprendizado antes e depois da escola, o Santa Filomena - que no ano passado, precisou dar adeus a 11 funcionários e nos últimos dois anos sofreu uma queda de R$ 6 mil nas doações que antes eram de R$ 15 mil - fez um empréstimo na busca de suprir o buraco nas finanças.

Agora, espera conseguir pagar o financiamento de R$ 200 mil e não precisar fechar as portas, deixando as crianças do lado de fora. “Vai chegar um ponto que não vamos mais conseguir dinheiro, teríamos que refinanciar o empréstimo para pagar o banco, não estamos vendo luz no fim do túnel”, relata Vinicius Morais Vigarinho, diretor financeiro da entidade e voluntário do local há cinco anos.

As contas as quais Vinicius se refere dizem respeito a encargos de salários dos 38 funcionários ainda restantes, manutenção de projetos, sobrevivência da entidade, aspectos que não são totalmente supridos pelos repasses de esfera federal, estadual e municipal que são recebidos. “Faz tempo que não é feito um reajuste, as coisas aumentaram, salário aumenta, mas o repasse não, então fica cada vez mais difícil”, pontua Vinicius.

O décimo terceiro não é coberto pelos repasses, é uma folha salarial de R$ 50 mil, nenhum governo me manda e temos que pagar, por isso, todo fim de ano é um sufoco, as doações caem porque as pessoas têm outras contas como IPTU [Imposto Predial e Territorial Urbano], IPVA [Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores] e acabam deixando de lado”, conta Vinicius.

O empréstimo, que foi dividido em parcelas de R$ 8 mil, é motivo de preocupação para todos na entidade, ao passo de que o dinheiro deve ser retirado das poucas fontes de renda, como vendas de pizzas, bazares mensais e festas juninas, fontes essas que também ajudam a suprir os gastos que as doações não cobrem. “Conseguimos fazer um bom trabalho nos últimos cinco anos, não devemos para ninguém, mas estamos nos deparando com uma situação preocupante novamente”. A diretoria atual do Lar Santa Filomena é composta por Vinicius e outros 20 voluntários que têm como meta tirar a entidade da crise financeira.

Com a equipe reduzida, Vinicius informa que não pretendem fazer mais demissões. “Os funcionários daqui não são apenas funcionários, eles são pessoas diferenciadas, porque amam isso aqui. Se fosse pelo salário, não estariam aqui, eles têm amor por eles, sabem da dificuldade, sabem que isso é para crianças carentes”, frisa.

Entre as principais necessidades, Vinicius destaca a falta de um veículo em boas condições para transportar as crianças. “Temos uma Kombi velha que dá R$ 2 mil de despesas, não temos esse dinheiro. Quando a Kombi quebra, damos 20 viagens para levar em escola, médicos, o combustível que antes era de R$ 900 mensais agora é de R$ 2.100 e não somos uma empresa, não temos lucro”, pontua. Outro fator é a questão da estrutura “velha e inacabada” da instituição. “Temos uma casa que não está terminada e hoje, pagamos aluguel de duas casas para manter meninos e meninas abrigados”, ressalta.

 

Fontes de renda

Além das doações, para arrecadar dinheiro o Lar Santa Filomena realiza todo segundo sábado do mês, um bazar de doações recebidas. Essas são vendidas e geram uma pequena renda mensal. Outra fonte de suprir as necessidades é a venda de pizzas que, junto com as doações, sofreu uma queda. Antes com uma produção de 1.500, por dificuldade em encontrar compradores, a produção caiu para 1.100.

Sabemos que com a crise, todo mundo está com essa dificuldade, corremos atrás, mas todos estão sentindo a crise”, explica Vinicius.

 

NÚMEROS

R$ 200 mil

Valor do empréstimo realizado pelo Lar Santa Filomena para suprir as finanças

R$ 8 mil

Preço das parcelas mensais do empréstimo

R$ 1,8 milhão

Gasto da entidade no ano de 2017

 

 

 

Rotina na entidade

Projeto aproxima crianças de outras realidades

Toda criança gosta de brincar, pular, correr e espera coisas boas da vida. Com os 185 atendidos do Lar Santa Filomena, em Presidente Prudente, não é diferente. A entidade, que serve de abrigo para 35 crianças de 0 a 18 anos e de espaço recreativo para outras 150 de 6 e 14, tem uma missão: dar melhor qualidade de vida e tirar os menores dos riscos e coisas erradas que aprenderiam estando nas ruas. Com aulas de informática, música, teatro, esportes e refeições, a entidade cria, de segunda a sexta-feira, um laço com essas crianças que o próprio nome já diz, lar.

Segundo o diretor financeiro da entidade, Vinicius Morais Vigarinho, as crianças que ficam na entidade todos os dias vão em horários contrários ao escolar, participam das oficinas, almoçam e lancham antes de retornar para suas famílias. Ele ressalta que o Santa Filomena é importante para essas crianças para tirá-las das ruas, local onde poderiam entrar em caminhos errados, além disso, destaca, principalmente, a questão da alimentação. A cidade, conforme destaca, não escapa do índice nacional de desigualdade social do país. “Se você pegar uma dessas crianças, aqui eu já presenciei na hora do almoço falarem ‘tio eu só vim aqui porque tem comida viu’. É uma triste realidade, mas penso, ‘graças a Deus que tem’”, conta.

O projeto, segundo Vinicius, é “importante porque muitos vêm aqui para fazer a refeição”. “Além das atividades que são varias, tem a alimentação excelente”, acrescenta Patrícia Araújo, responsável pelo almoxarifado da entidade e que, devido à queda de funcionários, auxilia na cozinha.

 

Rotinas

O CAE (Conhecimento Além da Escola) existe na instituição há mais de dez anos e, segundo Vinicius, é essencial para aproximar as crianças de realidade que, em casa, muitas vezes não teriam condições como aulas de informática, por exemplo. “Temos as aulas para que elas não se tornem ignorantes virtuais, por isso já tem essa iniciação que hoje em dia é essencial”.

Outro destaque do projeto são as aulas de música e teatro nas quais os pequenos aprendem a perder a timidez. Daniel Lucas Melo é professor de música das crianças há três anos. Todos os dias, de manhã e de tarde, ajuda os atendidos a desenvolverem proximidade com as artes que, segundo ele, auxilia na formação enquanto cidadão.

Já teve mãe de crianças que participam dos projetos que chegou em mim e falou que antes o filho era tímido, não conversava, e depois das aulas começou a cantar, dançar. Achei muito marcante ver uma criança que era tímida começar a praticar a arte mesmo”, relata Daniel Lucas.

 

Para onde vão as crianças?

Se as portas do lar se fecharem, além de sair da rotina, as 185 crianças podem perder a chance de aprender e ter uma condição de vida melhor. “As crianças que não vivem aqui e participam apenas dos projetos podem ser que não tenham condições de pegar transporte para ir em outras intuições e continuar as atividades. As que vêm aqui normalmente moram perto”, relata Vinicius.

Além do risco ao voltarem para as ruas e, em alguns casos, a falta de condição de uma boa alimentação diária. “A família às vezes não têm onde deixar e voltam para a rua ao invés de aprenderem algo útil”, ressalta.

No caso dos menores que têm a entidade como casa, eles podem ser realocados para outra instituição na cidade, porém, Vinicius não tem certeza se esses outros lares teriam estrutura para receber outras 35 crianças carentes.

 

Muitas vezes, já presenciei algumas crianças que falam que só vieram porque aqui tem comida

Vinicius Morais Vigarinho

diretor financeiro

 

SAIBA MAIS

Para doar e ajudar o Lar a continuar suas atividades basta entrar em contato pelo número (18) 3223 – 4786, ir até o endereço na rua Luís Carlos Ferrari, 125 Jardim Itapura I, ou enviar uma mensagem na página no Facebook “Lar Santa Filomena”. As doações são de valores livres por meio da ação “Amigo do Lar”

Publicidade

Veja também