Antitudo o que está aí

OPINIÃO - Sandro Rogério dos Santos

Data 14/10/2018
Horário 05:15

O Brasil é um país laico, formado por população majoritariamente religiosa, destacando-se o cristianismo e neste, o catolicismo. Vez ou outra aparecem estudos ou conjecturas de que a religião foi instrumentalizada a serviço dos poderosos de plantão. Faz algum tempo, não muito, o pêndulo da história em seu constante deslocar-se foi assumindo o sentido da direita. O mundo assiste ao movimento extremo contrário em vários países, também nas terras tupiniquins. O atual processo eleitoral está eivado de instrumentalização bíblica e religiosa. As Igrejas parecem se prestar a tal papel.

Instrumentalizar a religião significa deturpar princípios por meio de repetição de frases ou ações que pareçam contemplar o espírito do seu existir. Um país tido por tanto tempo como tolerante mostra seus mais feios sentimentos interiores. Antes, quando muito, discutia-se política e futebol nos botecos –com cachaça e graça– hoje estamos discutindo mais, sem dúvida, mas por meios livres e a um só tempo enviesados. Por exemplo, nas redes sociais, quem tem mais capilaridade, capacidade de se comunicar, leva vantagem na peleja. (Essa pauta não me abandona).

As pessoas no mundo virtual expressam opiniões, quase sempre, desvinculadas de informação saudável. Tenho uma ideia a favor de “x” e uma ideia contrária a “y”. Logo, aproveito-me de memes e de outras imagens e chavões para esquentar o “x” e esfriar o “y”. Consequência imediata é o espanto provocado ao saber o que pensa nosso ‘vizinho’ ‘sóbrio’. Pior, usam palavras fortes, violentas, sem filtros –que, ora, ficam restritos às fotos para despistar a crua realidade temporal agindo em nós– e ofendem pessoas como se não houvesse amanhã. Já participamos de uns 5 ‘fins de mundo’. E o mundo continua aí, existindo.

Percebo pessoas na comunidade, em nome do evangelho, da moral e dos bons costumes, desancando outras por meio de ‘fake news’. Em nome do seu conjunto de valores, mentem em defesa da verdade. Fazem juízo temerário para combater ‘Satã’. A argumentação exclui contraditórios. As ideias dos proponentes aos cargos são bovinamente replicadas e ao invés de atacarem-nas, atacam-se uns aos outros. É como aquela história do indivíduo que solta os cachorros atrás do carteiro porque entregou-lhe os boletos a pagar. Pobre carteiro!

Ouvindo e lendo os materiais de campanha, resta-me a impressão de que nenhum candidato presta. Nenhum poderá nos tirar do fundo do poço. Se considero os costumes, voto num; se considero os princípios democráticos, voto noutro. Mas um e outro têm calcanhares de barro. Pior. Ambos têm razão no que dizem contra o outro. Não receio pela ‘venezuelização’ do Brasil. Não receio pela destruição da família como orquestração do governo nacional. A família vai mal, faz tempo, e não me parece que a responsabilidade seja exclusividade governamental. Há muitas variáveis. Um amigo daqui, morando na Europa, nos classifica como ‘hipócritas’, não conservadores nem progressistas ou reacionários.

O “antitudo” que está aí, vencerá. Não temos consenso no que queremos, apenas no que não queremos. E seguindo as regras democráticas, alguém necessariamente vencerá. Vencer uma eleição, entretanto, não significa ter condições técnicas, éticas e políticas para governar. Temos uma escolha Salomônica ou de Sofia a fazer. Como torcidas de futebol, há dois ou três lados digladiando-se ao ponto de não aceitarem a realidade, se esta não lhe for favorável. Mais que nunca, é hora de votar/eleger com consciência, com a sua consciência; sem patrulha ideológica nem ‘terrorismo’ de lideranças. As mudanças estão no ar. Que elas sejam para melhor e para o bem de todos os brasileiros.

Seja bom o seu dia e abençoada a sua vida. Pax!!!

 

 

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