Anastácias do Brasil contemporâneo

OPINIÃO - Eder da Silva Santana

Data 20/11/2019
Horário 04:18

Neste Dia da Consciência Negra, gostaríamos de relembrar, de forma sucinta, a saga de resistência e luta de uma grande mulher, a escrava Anastácia.

Se estivéssemos no Rio de Janeiro em 1740, veríamos desembarcar do tumbeiro (navio negreiro) “Madalena” 112 negros Bantus. Dentre eles, a negra Delminda que, vítima de estupro de um homem branco, deu a luz a uma criança negra de olhos azuis: “Anastácia”. Os registros históricos que nos chegaram afirmam que aquela criança se tornaria uma linda mulher, fonte de desejos de seu senhor e também da ira de outras mulheres brancas.

Diante de sua rebeldia e “repulsa” aos apelos sexuais de seus senhores, fora-lhe infligido o castigo do uso permanente de uma máscara de ferro (Máscara de Flandres). A máscara, que possuía um cadeado, tinha orifícios para os olhos e nariz, mas impedia o negro de se alimentar (seria retirada somente naquelas ocasiões). Anastácia teria sido brutalmente espancada, suportando agressões atrozes que sessariam somente com a sua morte.

Mas, seu sofrimento não fora em vão, pois inspirou em outros negros, que sofriam agressões similares, a resistência e o enfrentamento.

Quantas são as Anastácias que, trabalhando em “casa de família” são vítimas de assédios constantes de “senhores” e seus filhos

Temos no Brasil, traços de uma forte cultura machista arraigada no patriarcado e as mulheres, em que pese sua brava luta pelos direitos da mulher, até este momento, são tratadas por muitos homens como objetos, como coisas, como um pertence.

Em nossa sociedade atual, temos inúmeras Anastácias, negras e não negras. As Casas grandes ainda existem, caros leitores. Quantas são as Anastácias que, trabalhando em “casa de família” são vítimas de assédios constantes de “senhores” e seus filhos e muitas vezes vistas com desconfiança pelas “patroas”?

Quantas são as Anastácias que madrugam de forma incessante para conquistar o pão de cada dia e com frequência são tratadas de maneira agressiva pelos companheiros e maridos, que se apossam do fruto de seu trabalho e priorizam a satisfação de seus próprios impulsos sexuais?

Necessitamos urgente, da promoção de ações afirmativas que contribuam para o empoderamento da mulher. Neste Dia da Consciência Negra, nos conscientizemos também da importância da luta e da resistência das mulheres.

 

 

 

 

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