Ame-os como eles são

Pessoas com síndrome de Down, bem como os pais e parentes, reiteram a mensagem fundamental: eles são capazes e precisam de oportunidades

PRUDENTE - MARCO VINICIUS ROPELLI

Data 22/03/2020
Horário 04:00
Isadora Crivelli -  Exalando amor, a família sempre educou Maria Clara como qualquer outra criança
Isadora Crivelli - Exalando amor, a família sempre educou Maria Clara como qualquer outra criança

Yone Renata Dias de Souza tem 20 anos, acabou recentemente os estudos do ensino médio, agora planeja fazer aulas de violão, já que é apaixonada por música. Bem, que diferença faria se nesta matéria fosse citado que Yone é uma pessoa com trissomia do cromossomo 21, a popular síndrome de Down? Pouca. Ela é ativa, comunicativa, sempre foi criada como uma pessoa “normal”, o que ela é, e nunca se abateu frente às dificuldades que, por ventura, tenha enfrentado.

A jovem é um exemplo como muitos outros, sente-se bem com si mesma, tem autoestima elevada, se considera inteligente, é feliz: “Tenho muito carinho, amor e paz”, afirma. Da mesma forma, Maria Clara Bertone de Cápua, 7 anos, tem personalidade forte e desenvoltura. Sua mãe, a assistente social Lucilene Almeida Bertone de Cápua, 50 anos, afirma que, desde quando soube que a filha possuía síndrome de Down fez o propósito de tratá-la da mesma forma que a primeira filha (hoje com 27 anos), não fazer qualquer diferença.

O resultado de ser tratada como qualquer criança? Mesmo que o desenvolvimento de uma pessoa com trissomia 21 seja mais lento, Maria Clara interage, lê, escreve...como qualquer criança. “Acho que o segredo da evolução da Maria é o modo como lidamos com ela, não tenho dó. Eu a amo e proporciono seu desenvolvimento. É preciso dar oportunidades para que as pessoas com Down desenvolvam suas capacidades”, afirma Lucilene.

“Sempre procurei enaltecer a autoestima dela, vesti-la muito bem; sempre digo: você é linda, é inteligente, maravilhosa. Tem pais que querem exigir dos filhos coisas que não podem dar, até nós temos dificuldades em determinadas coisas. Empatia é fundamental”, ressalta. Lucilene orienta que famílias busquem ajuda, é importante a família estar aberta ao novo, flexível. “Qualquer mudança gera impactos, busquei ajuda para me fortalecer”, recorda. A ajuda está em entidades e associações que lidam com pessoas excepcionais.

PRIMEIRO

IMPACTO

Entre 20 anos atrás e menos de 10 anos no passado, muitas coisas evoluíram. Quando a educadora infantil Valdenice Dias Silva de Souza, mãe da Yone, soube da condição da filha, assustou-se pela truculência e desinformação prestada pelo médico: “Nos exames nunca ninguém me disse nada, os médicos não me falaram nada. No dia 28 de julho de 1999 a Yone nasceu, aí o médico falou pra mim que ela era mongol”.

Valdenice lembra-se que chorou muito naquele dia, bastante desesperada, até que uma enfermeira a explicou melhor o que estava acontecendo: “Mãezinha, você não entendeu nada né? Ela só tem síndrome de Down, ela vai precisar só do seu carinho e muito amor”, disse a profissional de saúde. “Aí, depois de um tempo, levei ela para Apae [Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais], para fazer os atendimentos precoces. Chegando lá, a fisioterapeuta na época, falou pra mim: você tem que tratá-la como você trata o seu filho, eu já tinha um menino com cinco anos”, completa.

Da mesma forma, a mãe de Maria Clara, Lucilene, não nega o impacto do primeiro momento, visto que, da mesma forma que Valdenice, só soube que a filha possuía a trissomia do cromossomo 21 após o parto. “Nós temos a possibilidade de fazer duas escolhas, a rejeição, ou não. A minha escolha e de meu marido [Wilson Luis de Cápua, 52 anos] foi de amor incondicional”, afirma. Amor distribuído ao restante da família, como a irmã por parte de pai, Marcela Mingroni de Cápua, 28 anos, cujos olhos brilham ao brincar com a irmã.

Segundo ela, é necessário superar as barreiras do “filho idealizado”, e entender “filho real”. “Ame-o como ele é”. Esta é a mensagem da mãe a todos. Ontem, 21 de março, foi comemorado o Dia Internacional da Síndrome de Down.

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