Com muito barulho, brincadeira e prática de esporte, a tarde de ontem foi diferente para os alunos da Escola Estadual Francisco Pessoa, do Conjunto Habitacional Ana Jacinta, de Presidente Prudente. Deixando um pouco a sala de aula de lado, a tarde foi na quadra da escola ao lado, Professor Oracy Matricardi, com muita bola e conversa sobre a vida de Aline Pellegrino, ex-capitã da seleção brasileira de futebol feminino e atual coordenadora da modalidade na FPF (Federação Paulista de Futebol). Na ocasião, a atleta conversou também sobre educação e o preconceito com a mulher no esporte, que é dominado em sua maioria por homens.
Para a atleta, esse tipo de evento é sempre satisfatório pela proposta colocada pelo Sesc (Serviço Social do Comercio), que é a de aproximar a “molecada” da trajetória e dos exemplos de vida superados por ela. “É motivacional trazer algo que está distante deles, como medalhas, histórias. Hoje foi o primeiro dia da atividade, tenho mais dois, mas foi muito positivo”. A faixa etária dos alunos presentes na atividade, de 10 a 16 anos, também foi citada pela ex-capitã. “É uma idade de construção do caráter, de valores. Passamos por um momento na nossa sociedade de muita transição e mudança e às vezes eles não entendem as mudanças. Começam sabendo que podem isso, podem aquilo, e agora podem tudo”. comenta.
Oportunidades entre homens e mulheres foi um tema frisado no bate-papo com a ex-jogadora. “Quero que eles entendam também a questão de oportunidades entre homens e mulheres. Não é que homem é melhor que mulher ou vice-versa, é questão de oportunidade. A gente tem que ter as mesmas oportunidades, se a menina quer ser jogadora de futebol, ela tem que ter a oportunidade, se vai dar certo ou não, isso é outro assunto”, explica.
Preconceito
Sobre o preconceito, a jogadora que ganhou grande espaço no esporte considerado masculino, contou a sua visão sobre a atual situação do país. “O Brasil tem 500 anos enraizado nesta cultura machista, da mulher ter espaço menor, a mudança não vai vir em 50 anos. Temos que falar com estes adolescentes, que daqui um tempo serão pais e vão educar diferente, então é um processo de longo prazo, é uma questão cultural muito forte, mas que já começamos”, afirma.
Quando a ex-atleta diz que o jeito é conversar com os adolescentes de hoje, os depoimentos de quem participou da vivência provam a mudança de pensamento de cada um que ali estava. De acordo com o aluno Gabriel Peruche Lemes, que participou da atividade de futsal e handebol, o preconceito é algo que não pode acontecer. “Não pode ter preconceito com mulheres que jogam. Ela é muito legal, chegar em casa vou procurar vídeos dela para conhecer mais”, conta. A mesma opinião é colocada por Miguel Souza. “O negócio de menina não poder jogar é meio estranho, toda menina pode jogar o que quiser”, considera o garoto.
Aline Pellegrino serviu também de exemplo para aqueles que não gostam muito de esporte, mas entendem que mulher tem que ter espaço e oportunidade independente da profissão que escolher. “Não gosto muito de esporte, mas ela é incentivadora para buscarmos nosso espaço. Ela nos representa”, disse a aluna Larissa Oliveira.
“Quero que eles entendam também a questão de oportunidades entre homens e mulheres. Não é que homem é melhor que mulher ou vice-versa, é questão de oportunidade. A gente tem que ter as mesmas oportunidades, se a menina quer ser jogadora de futebol, ela tem que ter a oportunidade, se vai dar certo ou não, isso é outro assunto”
Aline Pellegrino,
ex-jogadora
Futebol Atual
Sobre a atual situação do futebol no país, Aline Pellegrino afirma que temos algo que nem todos os outros países têm. “Estamos passando por um processo pós 7 a 1, mas você vê, com qualquer outro país não aconteceria tão rápido esta reviravolta. Tomamos uma goleada ontem e entramos na próxima Copa como um dos favoritos”, enfatiza.
A ex-capitã cita também a gestão do país. “O Brasil está acostumado a fazer uma gestão mais antiga, em que não se olha muito para fora. Não quero dizer que o que estão fazendo lá fora é o certo e melhor que nós. Temos que valorizar o que temos aqui, mas estar aberto a pegar uma ou outra proposta, ver um ou outro case de sucesso e tentar aplicar aqui também dentro do nosso contexto”, completa.
A atividade com a ex-atleta continua hoje, na Escola Estadual Professor Hugo Miele, na Vila Esperança, das 8h30 às 10h30 e das 14h às 16h. A vivência será encerrada amanhã, das 8h30 às 10h30 e das 15h às 17h, na Praça da Juventude Francisco Vinha, também no Ana Jacinta. No encerramento, a atividade será aberta para todos os interessados.