Alimento perene

OPINIÃO - Sandro Rogério dos Santos

Data 22/07/2018
Horário 04:00

Julho é mês de recessos, especialmente para os estudantes. Muitos aproveitam para visitar os avós, passear. Há quem possa sair de férias e também viajar para lugares turísticos. Considerando essa característica mais suave do mês, tenho me ocupado com temas espirituais (que não são de forma alguma desligados da realidade na qual estamos inseridos no mundo). Conversemos, hoje, “amenidades”; deixemos os assuntos mais duros para outra hora. Lembrei-me de um livro lido há cerca de uma década, ainda padre mais jovenzinho. “Reflexões sobre o sacerdócio – Carta a um jovem padre” (Paulus, 2009), escrito pelo cardeal nigeriano Francis Arinze.

Apresentando a obra, monsenhor José Maria Pereira afirma que o autor “ciente de que o sacerdócio é um dom, quis marcar de forma especial o 50º aniversário de sua ordenação sacerdotal. Abre seu coração, fazendo em forma de carta a um sacerdote jovem; testemunha com uma existência toda consagrada ao serviço do Senhor que antes de pertencer a si mesmo o sacerdote pertence a Cristo e à Igreja”. A obra tem oito capítulos assim dispostos: O apreço pelo sagrado presbiterato; Os quatro amores do sacerdote (Jesus Cristo, Sagrada Escritura, Igreja, Virgem Maria); O sacerdote e o estilo evangélico de vida; A vida de oração do sacerdote; Fé, zelo, verdade, alegria e amor no apostolado do sacerdote; O relacionamento do sacerdote com as pessoas; A cruz na vida do sacerdote; No ocaso da vida.

Arinze repete com frequência as próprias convicções de vida, permitindo com isso que conheçamos os lampejos de seu ânimo sacerdotal, ornado de virtudes sólidas e evangélicas: apego a Jesus Cristo, a qualquer custo; a paixão pela Igreja, sem pretensões e interesses pessoais; zelo pelo anúncio do Evangelho; coragem, alegria, otimismo, dedicação ao trabalho sem medo do desgaste; sobriedade de vida, que torna digno de crédito o testemunho; capacidade no cuidado pelos outros, sem excessiva preocupação para consigo mesmo.

Ciente de que aquilo que a alma ama fica eterno, trago comigo uma motivação apresentada pelo autor para que o jovem padre mantenha viva sua vida de oração pautada na Palavra de Deus e na Eucaristia, colocando, assim, cada coisa no seu devido lugar. Por vezes, em detrimento de um tempo qualificado de oração o jovem padre (mas não só, óbvio) se perde na leitura do noticiário. Enquanto a Palavra de Deus é perene e alimenta a vida espiritual, em geral as notícias são efêmeras. Arinze nos lembra: “a Sagrada Escritura é palavra de Deus enquanto consignada por escrito sob a inspiração do Espírito Divino (Dei Verbum, 9)”.

Depois, reflete: “os sacerdotes devem amar a as Sagradas Escrituras, que são para eles alimento espiritual do dia a dia. Surge espontânea a pergunta: Quanto tempo o sacerdote dedica diariamente à leitura das Sagradas Escrituras? Privilegia os Evangelhos? Empenha-se com espírito de oração numa leitura meditada, mais que numa leitura rápida? As Escrituras se tornam gradualmente parte de sua vida? Quando tenta desculpar-se, chamando em causa a falta de tempo, se poderia perguntar-lhe quanto tempo diário dedica à leitura dos jornais, à televisão, à internet: muitas vezes, o que esses meios propõem é verdadeiro de manhã, incerto ao meio-dia e falso à tarde. O que dizer de um padre que não consegue reservar 15 minutos por dia para ler as Escrituras?”

Para o mundo dessacralizado, será oportuno apontar para a manifestação do mistério divino também na vida desses homens – como os outros – escolhidos para o serviço de Deus e do povo, Sua Igreja. Que cada padre seja transparência do mistério e, nós, os acolhamos como dom para o mundo. Seja bom o seu dia e abençoada a sua vida. Pax!!!

Publicidade

Veja também