Ainda sobre prevenção ao suicídio

A prevenção ao suicídio implica todo tipo de ação que proporcione melhores condições de vida ao ser humano, com dignidade, oportunidades e recursos para desfrutá-la. Inclui-se ai o direito a alimentação, moradia, educação, trabalho e possibilidade de realização pessoal. Tudo isso depende mais da sociedade que do indivíduo - até mesmo a felicidade está relacionada ao fato de a pessoa se sentir útil para o seu grupo social. Há muitos idosos deprimidos por estarem sentindo-se inúteis no contexto familiar. Muitas vezes pensam que a saída é a morte.

A importância dos primeiros anos de vida no desenvolvimento emocional é imensa e todos devem ter direito a uma família que forneça amor e figuras de identificação adequada. Por vezes, há necessidade de famílias substitutas. A institucionalização de crianças e jovens é um caminho aberto para a frustração, violência e carências afetivas, base de muitos transtornos emocionais. Deve haver uma identificação precoce de problemas emocionais, aos quais todos estamos sujeitos, como depressão, ameaça de surto psicótico e outros que podem levar à drogadição e ao alcoolismo.

A sociedade e os sistemas de saúde devem fornecer meios adequados para que essas pessoas possam ser tratadas. Médicos, professores e todos os profissionais que lidam com seres humanos devem ser capazes de identificar ideias suicidas. Deve-se averiguar e questionar, cuidadosamente, quando nos defrontamos com pessoas desesperançadas, desesperadas, que parecem não ter mais vontade de viver. O mesmo com pessoas que pareçam estranhas, sentindo-se ameaçadas e perseguidas sem motivo. Também merecem atenção especial indivíduos que se frustram com facilidade e que agem impulsivamente quando as coisas não ocorrem conforme esperavam.

As tentativas de suicídio devem ser consideradas um pedido de ajuda e a pessoa deve ser encaminhada para avaliação por um profissional de saúde mental. Quando um suicídio ocorre, o sofrimento dos familiares costuma ser imenso. Conforme o psicanalista Roosevelt Cassorla. “O ato suicida contem um forte componente agressivo, e ele atingirá as pessoas próximas ao indivíduo com sentimentos de culpa por não o terem compreendido, por não terem percebido ou minimizado o risco. Os parentes do suicida se sentem responsáveis, culpados pelo ato. A possibilidade de um luto patológico é grande. É importante que a família e outras pessoas próximas ao suicida saibam que ninguém é onipotente e onisciente, que nem sempre é possível prever o ato e tomar medidas adequadas”.

Ainda Cassorla aponta que, “quem perde alguém por suicídio deve poder contar com um local para desabafar e pensar no que ocorreu, para que não fique sobrecarregado por lutos de difícil elaboração, os quais, por vezes, degeneram em acusações entre os membros da família e na desagregação familiar. Quando isso acontece, quando o suicídio contagia a todos a ponto de a convivência familiar ser destruída, é necessário recorrer a um profissional de saúde mental”.

Quase sempre a pessoa que pensa em suicídio está sob a influência de conflitos inconscientes. Se eles forem descobertos ela será capaz de encontrar outras saídas para seus problemas. Eu, como todos os profissionais da área de saúde mental, observo em experiências com pessoas que queriam se matar que a principio me viam como inimiga, mas que, depois, demonstraram gratidão pelo tratamento, o qual evitou sua morte.

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