Agentes “enxugam gelo” com apreensões em penitenciárias

EDITORIAL -

Data 20/04/2018
Horário 09:21

“Eu morro e não vejo tudo”. A frase é comum em rodas de conversa pela rua, sobretudo quando se trata de assuntos inusitados, curiosos, e pode ser facilmente utilizada para designar uma matéria publicada na edição de anteontem deste diário. Como infelizmente acontece todas as semanas, O Imparcial noticiou o registro de tentativas de inserção de objetos ilícitos nos estabelecimentos prisionais subordinados à Croeste (Coordenadoria de Unidades Prisionais da Região Oeste do Estado). Até aí tudo dentro da normalidade, não fora o objeto utilizado para tentar adentrar ao presídio. Na Penitenciária Tacyan Menezes de Lucena de Martinópolis, uma mulher tentou introduzir materiais na unidade em uma vasilha de azeitonas recheadas com maconha. Ao invés do caroço, maconha.

O fato é curioso e chama a atenção pela audácia, mas não é engraçado. É mais uma dentre muitas tentativas de levar materiais ilícitos para dentro de unidades prisionais. No mesmo dia da apreensão das azeitonas “turbinadas”, inclusive, diversas mulheres foram interceptadas nas penitenciárias com drogas, celulares, fones de ouvido e chips, em suas genitálias ou peças de roupas.

Além dos itens ilegais para o perímetro penitenciário, o fato em comum em todas as ocorrências abordadas na matéria é que foram cometidas por mulheres, visitantes de detentos. Questão que, em uma análise mais aprofundada, pode evidenciar que os presos não são apenas aqueles que estão dentro das grades, mas também os que estão fora, que se tornam reféns do crime e muitas vezes são coagidos a atuar em favor dele.

Mas o ponto chave de tudo isso está em uma frase escrita no texto: “Os visitantes flagrados são suspensos do rol de visitas e levados à Delegacia de Polícia Civil mais próxima, sem prejuízo de responderem na esfera criminal”. Ou seja, não há imputação criminal à prática, apenas o descredenciamento do rol de visitantes. Logo, se uma pessoa é surpreendida com algo ilícito e riscada da lista, basta chamar a próxima para fazer o mesmo serviço, no próximo final de semana. Descobre-se então a razão do registro de tantos casos semelhantes, que transformam o eficaz serviço dos agentes da SAP (Secretaria da Administração Penitenciária) em um verdadeiro “enxugar gelo”.

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