Aflitas com "morosidade", famílias temem ordem de despejo

REGIÃO - ANDRÉ ESTEVES

Data 21/10/2018
Horário 04:01
José Reis - Sem água potável, moradores precisam recorrer a galões
José Reis - Sem água potável, moradores precisam recorrer a galões

Em Santo Anastácio, a vendedora de sonhos, Renata dos Santos Pereira de Queiroz, 26 anos, exibe com orgulho o banheiro recém-azulejado de sua casa, mas teme que uma ordem de despejo anule todos os esforços e recursos empenhados no revestimento do cômodo. Ela faz parte de uma das 10 famílias sem-teto que construíram moradias irregulares na área do Triângulo da Reversão da Fepasa (Ferrovia Paulista Sociedade Anônima), alvo de uma reintegração de posse desde maio de 2015. A moradora e seu marido, Gilson Aparecido Correia de Queiroz, 29 anos, se mostram aflitos com a morosidade do processo judicial, que, segundo eles, poderia ser resolvido se a Prefeitura tomasse providências rápidas sobre a cessão das terras. “Tanto o Poder Executivo quanto o Poder Legislativo se comprometeram a não nos deixar abandonados, mas, por enquanto, as coisas por aqui estão paradas”, comenta Gilson.

A incerteza sobre o destino da área não é o único empecilho enfrentado pelas famílias. Enquanto o espaço não é regularizado pela administração municipal, os moradores sofrem com a falta de infraestrutura básica, como saneamento e iluminação própria. Um poço artesiano é a alternativa para o abastecimento da população, no entanto, a água captada é imprópria para consumo. Já a energia elétrica é cedida por um clube ao lado. A dona de casa Franciele Marcelina dos Santos, 31 anos, diz que, em dias de chuva, é impossível utilizar a água da torneira para os afazeres domésticos, uma vez que se torna barrenta. “Eu já tentei fervê-la, mas criou uma espécie de ‘nata’ em cima”, conta. Para a ingestão ou preparo de alimentos, ela utiliza galões de água levados por sua irmã e cunhados.

Ao fim do mês, a conta de energia é rateada pelos munícipes, que não sabem dizer quem gastou mais ou menos. Há alguns meses, um topógrafo chegou ali para fazer medições na área, despertando a esperança de Franciele. “Ficamos bem animados, achando que surgiria uma notícia em breve, mas continua tudo quieto. Ninguém fala nada”, relata. Ela mora, atualmente, na casa anteriormente ocupada pelo vendedor José Gonçalves de Queiroz, conhecido popularmente como Zé do Sonho e pai de Gilson. Após sua esposa herdar uma casa no município, ele destinou a moradia para Franciele, que tem um terreno no local, contudo, encontrava dificuldades financeiras para construir a casa. Gilson explica a ação do pai: “Não havia porque vender. Todos estamos aqui para ter onde morar”.

A desempregada Laurice Justina de Souza, 52 anos, divide uma casa com a filha e dois netos. Assim como os demais, ela lamenta a possibilidade de um dia precisar sair do local. “Não temos nada provando que as casas são nossas. Se um dia me despejarem, não há lugar para onde ir, pois estou desempregada e sem dinheiro para pagar aluguel”, desabafa.

À reportagem, o prefeito de Santo Anastácio, Roberto Volpe (MDB), afirmou que a Prefeitura está reivindicando a área e pretende dar sequência ao processo de cessão após a conclusão de um levantamento topográfico no território. Quanto a um possível despejo dos moradores, o gestor ressalta que, se necessário, o município intervirá no sentido de evitar que as famílias percam suas casas. A implantação de saneamento e iluminação, por sua vez, depende da regularização do espaço para ser autorizada.

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