Aeroporto de Venceslau é fechado para evitar resgate de facção

Interceptações telefônicas teriam evitado a fuga de integrantes do grupo da P2, que fica próxima ao aeródromo do município

REGIÃO - GABRIEL BUOSI

Data 11/10/2018
Horário 04:00
Marcio Oliveira - Policiamento esteve presente no trevo que dá acesso à P2 e ao aeroporto municipal
Marcio Oliveira - Policiamento esteve presente no trevo que dá acesso à P2 e ao aeroporto municipal

O clima entre os moradores de Presidente Venceslau durante todo o dia de ontem era o de curiosidade e certa insegurança, como eles mesmos descreveram, já que viaturas do GAC (Grupo de Artilharia de Campanha), GOE (Grupo de Operações Especiais) e a Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) circulavam pelo município, o que fez com que diversas informações, nem todas verdadeiras, surgissem em redes sociais sobre supostos confrontos entre bandidos e autoridades. Desta forma, a reportagem esteve na cidade e apurou que Gabriel Medeiros, juiz de Direito corregedor da Penitenciária Maurício Henrique Guimarães Pereira, conhecida como P2, determinou o isolamento do aeroporto municipal, a fim de evitar um possível resgate de membros de uma facção criminosa da unidade, que fica próxima ao local, após interceptações telefônicas. “A medida se torna necessária, pois evitará problemática maior”.

O documento com o pedido foi encaminhado ontem ao prefeito de Presidente Venceslau, Jorge Duran Gonçalez (PSD), quando o juiz esclareceu ter recebido informações acerca de uma possível movimentação arquitetada por uma conhecida facção criminosa, cujos líderes se encontravam na P2. “Há enorme preocupação com o aeroporto municipal, pois está muito próximo ao estabelecimento prisional, permitindo logística para atuação da referida organização”. Desta forma, e ciente da problemática que a ação poderia causar, Gabriel determina que o município tome providências que isolem fisicamente a pista do aeroporto, a fim de impedir pousos e decolagens pelo prazo inicial de 20 dias.

A medida, antes mesmo de ser tomada, já era motivo de especulações por parte dos moradores, que começaram a compartilhar via redes sociais supostos confrontos entre policiais e bandidos, que teriam resultado em mortes, bem como feito com que a cidade, em pleno horário comercial, estivesse praticamente vazia, já que este foi o cenário encontrado pela reportagem. Ruas sem muitas movimentações, a não ser das viaturas policiais, comerciantes em frente aos seus estabelecimentos e o silêncio que era carregado de incertezas.

Com tal situação, à reportagem, a Prefeitura esclareceu que o município recebia ontem 150 policiais, divididos entre 50 do GAC, 50 do GOE e outros 50 da Rota, já que, por causa das interceptações telefônicas, quando o juiz teria recebido a informação do possível resgate. “O prefeito já determinou a tomada de providências. A Prefeitura vai promover, juntamente com a Polícia Militar, a interdição da pista do aeroporto. Já foi providenciada comunicação da medida para a Anac [Agência Nacional de Aviação Civil], para comunicação nacional da interdição temporária”.

Ainda no município, a reportagem tentou contato com a Polícia Civil, que informou não ter sido oficialmente notificada sobre o ocorrido. Já a Polícia Militar, por meio de nota, confirmou que realizou operações, ontem, em Venceslau, com o emprego de recursos do Comando de Policiamento de Choque, no entanto, não mencionou o possível resgate de membros de uma facção criminosa da P2. “Trata-se de uma operação programada, dentro da agenda daquele comando, com o objetivo de reduzir indicadores de crimes patrimoniais”. E ressaltou que o treinamento da tropa de choque é “constante e periódico e ocorre rotineiramente, tendo em vista que deve estar apta e preparada para ser empregada em todo o território do Estado de São Paulo, quando a situação assim exigir”.

Por sua vez, a SAP (Secretaria da Administração Penitenciária), por telefone, afirmou que não se posicionaria sobre o caso.

Clima de incerteza

O empresário e morador de Venceslau, Márcio Garcia de Oliveira, 32 anos, tem um estabelecimento que fica na avenida principal da cidade, e ressalta ter percebido a movimentação diferenciada ainda no início da manhã. “Ficamos no escuro, pois são carros do GOE e da Rota, por exemplo, mas não sabemos ao certo do que se trata, pois são muitas as informações que recebemos”, esclarece. Ainda segundo Márcio, a situação traz certa preocupação, já que pode desencadear, a qualquer momento, confrontos entre a polícia e a facção em questão.

O posicionamento é compartilhado pelo mecânico de máquinas, Juvenal Martins, 55 anos, que afirma ter percebido a presença dos policiais com a intenção de “manter a cidade segura”, a partir dos rumores que surgiram em redes sociais. “Penso, no entanto, que além da insegurança, devemos ver o lado positivo, de que temos profissionais preparados para nos proteger”.

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