A muralha verde de Wangari Maathai

OPINIÃO - Maurício Waldman

Data 20/06/2019
Horário 05:52

Indiscutivelmente, o Planeta, além de alvo de duros impactos ambientais, não tem observado contrapartidas que preservem o ambiente que garantiria o bem-estar das futuras gerações. Neste cenário, eis que um caminho iluminado irrompeu com proposta lançada pela queniana Wangari Maathai, primeira mulher com título de PHD no seu país, também laureada com o Prêmio Nobel da Paz de 2004, o primeiro concedido a uma mulher africana e a um ativista ecológico.

Em 1977, Maathai abandonou o cargo de professora universitária para voltar-se ao trabalho de motivar as mulheres do meio rural para a preservação ambiental. Tal decisão foi o eixo do Movimento do Cinturão Verde do Quênia, iniciado com a semeadura de não mais que sete árvores em 5 de junho de 1977. Após quinze anos, o trabalho de Maathai resultou no plantio de sete milhões de mudas, protegidas por camponesas em 22 distritos de todo o Quênia.

Inspirada no sucesso da iniciativa, Wangari ampliou a meta do projeto original para toda a África, propondo um plano de reflorestamento esverdeando o continente de ponta a ponta, uma muralha verde para conter o avanço do Deserto do Saara, restaurar terras degradadas, gerar renda com a regeneração ecológica, incentivar a agricultura e promover a volta das chuvas e da umidade.

Propondo uma longa faixa de árvores na borda Sul do Saara, o Cinturão Verde da África forma um corredor de 8.000 km de comprimento e 15 km de largura, do Senegal a oeste até Djibuti no leste. Não sem razão, a União Africana e a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) referem-se ao projeto como uma iniciativa emblemática no combate da destruição dos solos, da desertificação e da seca. O plano apresentou em 2019, doze anos após o lançamento da proposta da Grande Muralha Verde da África e oito do falecimento de Wangari Maathai, evidências de sucesso indiscutível. Hoje, as metas apontam para a restauração de 100 milhões de hectares de terra, fornecer segurança alimentar para vinte milhões de pessoas, criar dez milhões de empregos verdes e sequestrar 250 milhões de toneladas de carbono até 2030.

Este trabalho continua em andamento, como no Senegal, que resgatou 4 milhões de hectares da aridez. Por sua vez, os agricultores do Níger, um dos países mais pobres do mundo, revitalizaram vastas áreas desérticas, priorizando a regeneração natural da terra com poços para estocar água e revivendo as raízes das plantas, conseguindo assim ressuscitar árvores atormentadas por duras estiagens, mantidas com trabalho comunitário.

O Níger ampliou sua fronteira agrícola em cinco milhões de hectares, protegidos por 200 milhões de árvores, estimando-se que esta conquista, proporcionou adicional de 500 mil toneladas de cereais/ano, suficiente para alimentar 2,5 milhões de pessoas. O investimento, inferior a US$ 20 por hectare, contesta caros projetos financiados por doadores estrangeiros, que muitas vezes, se esvaem no labirinto burocrático. Em suma: o Níger tornou-se, na voz dos especialistas, um exemplo para o mundo.

Parceiros da Grande Muralha Verde, reconhecendo o sucesso do Níger, incorporaram esta lição nos seus programas. Em março de 2019, o muro exibe ganhos significativos na Nigéria, no Senegal e na Etiópia. O Senegal plantou mais de 11 milhões de árvores, a Nigéria, restaurou 12 milhões de acres de terras degradadas e a Etiópia, recuperou outros 37 milhões, multiplicando benefícios para todas as populações destes países.

Como pregava Maathai, mais do que diminuir o Desmatamento, a solução é ampliar o Florestamento, pelo que, a muralha verde tornou-se um polo de renascimento ambiental. Tudo isso confirma que Wangari estava absolutamente correta em acreditar na determinação da sociedade africana e particularmente, na força das camponesas pobres. Nada mais contundente do que observar que sua crença foi amplamente respaldada pelos fatos. A Muralha Verde consolidou-se e no mais, está em expansão. O Planeta agradece!

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