A criança que sofre abusos

O abuso sexual na criança, não é um tema fácil para abordar. Envolvem múltiplas variáveis, como a idade da criança, o sexo do abusador e a natureza do abuso. É uma realidade que atinge nossa sociedade. Pensa-se, de um modo geral, que o problema está fora, bem distante e não chegará da porta para dentro. Ledo engano. Está mais próximo do que se imagina. Atingem ambos os sexos. No desenvolvimento bio-psico-social da criança é inerente que mudanças ocorram em seus diferentes vértices. Evoluções ocorrem em seus aspectos psicológicos, fisiológicos, anatômico, etc.

O bebê reconhece o mundo ao seu redor, primeiramente, pelo espelho-face-mãe. Após esse contato extremamente importante, avança para uma terceira pessoa: pai. E assim entram os avós, tios, padrinhos, irmãos, funcionários e educadores. O desenvolvimento psicossexual da criança é natural e inevitável, caracterizando-se em: oral, anal, fálica (pré-genital), latência e genital; não podemos ignorar. Há um grande tabu em falar sobre sexualidade e sexualidade infantil. Não podemos negligenciar sobre esse desenvolvimento. É fundamental que pais e demais instituições tenham esse conhecimento para poder cuidar melhor de suas crianças.

O abusador sabe como encantar a criança pequena. O pedófilo não ignora. A criança adora carinho. E quem não gosta? A criança que sofre abusos não fala para ninguém o que está acontecendo, pois se confunde. Ela desconhece sobre o que o abusador está pedindo e sua ação frente a isso. Não avalia o certo ou errado. Ela ainda não possui o desenvolvimento psíquico, para administrar se pode ou não tocar no genital do abusador, se pode ser tocada e o conluio que se estabeleceu.

A entrega da criança é ampla. Em principio ela tem fé na bondade das pessoas. Um pouco maior (faixa etária), percebe que a pessoa em que confiava muda subitamente sua natureza e que traiu sua confiança. Ela fica estupefata e sua própria vulnerabilidade comum volta-se contra ela. O problema maior - temos que desmistificar - é que a criança não foge do abusador, contando tudo para alguém, para livrar-se da violência.

Recorro aos ensinamentos do psicanalista Christopher Bollas que diz: “Ela malignamente é agora dependente do violador, pois com frequência não existe ‘ninguém’ a quem a criança possa recorrer. A dependência da criança para com o violador pode aprofundar-se, ainda que ninguém perceba no comportamento da criança, que está cada vez mais manifestamente distante. A criança abusada se sentira malignamente atada ao violador, o que gerará uma relação ‘mais próxima’ com o próprio objeto que a traiu. O abuso sexual é um tipo de morte psíquica. Em sua vida adulta, está criança sexualmente abusada sentirá uma dor, que será em alguns aspectos, interminável. É a morte de possibilidades de um futuro. Perde-se a fé na bondade do ser humano”.

Uma das mais importantes consequências é a incapacidade para desenvolver uma relação íntima com o outro (vínculo), ou com o seu mundo interno. Comportamentos como características autísticas, frigidez, dificuldade de aproximação, persecutoriedade, timidez, déficit de aprendizagem, dificuldade para simbolização, embotamento afetivo, etc. Também alguns transtornos como TDAH (transtorno de atenção e hiperatividade), transtorno de ansiedade generalizada, depressão, psicose, transtorno alimentar como bulimia, anorexia ou compulsão alimentar, fobias ou agorafobia e muito mais. O abuso sexual é uma profunda tragédia e é um fato alarmantemente comum. Lacunas de desamparo, rejeição, desamor, vícios como alcoolismo, drogadição, inadequação de acolhimento materno, enfim, desequilíbrio familiar, estimulam criando situações propicias para o abusador aproximar de sua presa. É um alerta aos pais sobre essa realidade cruel que ameaça nossa sociedade.

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