A Copa caiu

OPINIÃO - Arlette Piai

Data 10/07/2018
Horário 05:00

Foi uma pena! Os brasileiros precisariam da alegria que a Copa do Mundo traduz aos corações: “Sabemos ganhar, podemos ter fé na pátria Brasil”; mas não deu! No final do século 19 até meado do século 20, os ídolos das crianças, jovens, adultos, pais e professores, eram os cientistas, grandes escritores, filósofos, também jogadores e atletas, como o Pelé. Nessa fase o Brasil foi quase laureado pelo prêmio Nobel, com os reconhecidos médicos e cientistas Carlos Chagas e Osvaldo Cruz, personalidades que muito fizeram pelo Brasil e pela humanidade. 

Ozires Silva, reitor da Universidade São Judas, Campus Unimonte, questionou: “Por que os brasileiros levam Copas e em toda história não levou sequer um prêmio Nobel?”. É realmente intrigante como o mundo olha o Brasil nessa situação vexatória. Nas grandes universidades do mundo todos falam que os latino-americanos não reagem culturalmente e que o Brasil nada contribui para a evolução da humanidade. Mais de 50 nações já puderam celebrar esse reconhecimento. Estados Unidos: angariou o maior número de Nobel do mundo: 355; Reino Unido: 120; Alemanha: 105; França: 67; Suécia: 31; Rússia: 27; Suíça: 26; Japão: 25; Canadá: 23; Itália: 20; Argentina: cinco; Portugal: quatro; Chile: dois; Colômbia: dois; Bélgica: um; Brasil: zero.

Falta de recursos públicos é evidente na área de educação, cultura e pesquisa, mas seria o único empecilho? Fausto Nomura, professor e pesquisador, disse que o principal problema é a falta de vontade política, de profissionais da educação e estratégia para desenvolver pesquisa que motivem as crianças desde o ensino fundamental. Insiste que uma das lições a ser aprendida com outros países é que a formação de cientistas começa na infância em que a criança deve aprender bem princípios da matemática, a redação e “brincar de cientista”. Pode-se somar ainda a ação dos professores: “Continuam enchendo a cabeça dos alunos com fórmulas como se o cérebro fosse um cofre?”.

Mas a grande vilã desse lamentável quadro, tão lamentavelmente diferente do início do século 20, é a mídia. Esta é responsável por direcionar crianças e jovens a aspirar prioritariamente dois ídolos: os jogadores de futebol e os “famosos”. Os famosos ganham uma grana altíssima e uma espécie de “bônus”, que pode chegar a R$ 1 milhão quando escalados para uma nova novela. Famosas, para pousarem nuas, chegam a ter oferta de até R$ 3 milhões, porque a venda dessas revistas ultrapassam 15 milhões. Hoje a inspiração para as garotas é, por excelência, a estética do corpo. Para os meninos, a maior fonte de inspiração é o jogador Neymar, que recebe um dos maiores salários da história do futebol, 30 milhões de euros, ou seja, cerca de R$ 110 milhões por cada temporada, livre de impostos.

Para esses dois polos são dirigidos todos os desejos, todas as atenções, todas as energias da maioria dos nossos jovens. Entretanto, mais de 99,99% são frustrados nesse intento. Qual é o resultado para a vida desses jovens e para a nação? É lindo ver a vibração da nação brasileira torcendo pela Copa, mostrando espírito de amor, carinho, de sacrifício, de patriotismo. Se essa mesma paixão, união, espírito de luta, de vibração, coragem e energia forem conduzidas para mudar nosso país, em pouco tempo seremos a maior potência do planeta e a melhor democracia do mundo. O que fazer para a mudança desse paradigma, leitor?

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