"VEM CANTAR A DOCE MELODIA DESPERTAR A CRIANÇA QUE VOCÊ FOI UM DIA VEM SONHAR E ME ENCONTRAR NO PICADEIRO DA VIDA"...

Persio Isaac

COLUNA - Persio Isaac

Data 23/02/2020
Horário 07:08

Hoje acordei com uma vontade de ir embora para o passado. Não vivemos do passado, o passado é que vive em nós. Imaginei dentro de uma máquina do tempo. Nos anos 70 aterrissei. Era carnaval lá no Tênis Clube na pequena cidade de Presidente Prudente, nossa aldeia sagrada, que mora no interior do meu coração. Entrei no salão com a fantasia da alegria. No meu mundo de sonhos procurava a Colombina. Todos fantasiados politicamente incorretos. Um sarro. Homem vestido de mulher, mulher vestida de homem. Nada é proibido. Até o Diabo quer tomar o lugar de Deus. Uma loucura inocente.

Seu Toninho da floricultura pulando e rodando o salão com uma perna só. Que saúde. Seu Álvaro Lemos vestido de Pantera-Cor de Rosa jogando confete em todo mundo. O Sr. Estrela batendo nas cabeças dos foliões com seu martelinho de plástico. Os confetes sendo engolidos nas bocas abertas de liberdade. As máscaras protegendo os olhos das cheirosas lança-perfumes.

A inconsequência dominava os corações dementes. Todos pulando, todos cantando, todos se beijando. Na quarta-feira tudo iria virar cinzas mesmo. E os lendários Acqua-Lokos? Sarkis, Dodô, Cornel faziam loucuras acrobáticas no trampolim da piscina grande do clube. Quando caíam sumiam nas águas profundas esverdeadas de tanto cloro que seu Mário Tumitan mandava colocar. Uma fórmula misteriosa, que o Norton Piraju, tenta desvendar. Pelo jeito irá até a eternidade. Querem se esconder? Pulem na piscina do Tênis.

Sairão com os olhos vermelhos e a pele verde kkkkk. E o desfile de fantasias de papel? Era uma festa. A arquibancada ficava lotada. A Bia Artero sempre ganhava. Sua mãe era mestra em fazer e criar as fantasias. E os Malacos? Aí era sacanagem. Mestre Amendoim criou um chocalho maior desse mundo. Um cano de ferro de 2 metros de altura com um chocalho na ponta, onde o Bernardão ia cutucando as estrelas. A ala das Baianas comandadas pelas irmãs, Eliana Salomão Canton e Monica Salomão D’Avila eram um luxo. As fantasias desenhadas pela nossa figurinista, Clara Bongiovanni, o must do desfile de rua. Os renomados estilistas brasileiros, Reinaldo Lourenço e Waltinho foram nossos figurinistas. Quanta honra. O famoso manequim do lendário Denner, Celso "All be There" mostrou toda sua elegância na avenida iluminada. O eterno Presidente carnavalesco, Dr. Jaime Barbosa se orgulhava da beleza das nossas musas: Dulce Blaia, Márcia Rosas, Cristina Kalil, Adrianny Prata. Elas inspiravam a todos a sonharem com o infinito. Nossas passistas: Eliane Souto Ceravolo Lica, Renata Carneiro de Mendonça, Flavinha, Maria Cristina Miranda Bernardes, Tininha Senna e Ana, levantavam defuntos com seus rebolados de mulatas assanhadas. O nosso Rei, Pedro Ricardo Affonso Campos e a nossa Porta-Bandeira, Monica Paim Andrade eram a tradição pura. As destaques e o luxo das fantasias de Mirian Ribeiro e Mônica Ribeiro. O tempo jamais irá apagar. As decorações no salão, criadas por Tiago Marcondes como o Tema, o Circo, Carnaval nas estrelas, onde o Vitor Marcondes, Urbano Medeiros e Binho Tiezzi, transformaram o teto do salão num céu cheios de estrelas que até a lua veio brincar no nosso carnaval. A voz de anjo de Ana Caram cantando em cima de um caminhão ao som do cavaquinho de Edmilson Baixinho: Gira/ Gira/ Gira mundo/ todo mundo vai girar/ na alegria dos malacos/ o circo ganhou lugar/ Vem cantar... arrepiava. Os passos mágicos do nosso Mestre-Sala, Garridinho serão sempre eternos.

O gingado dos capoeiristas Galãs, Ediberto Marques Lemes Pinto e Marco Antonio Ceravolo eram eletrizantes. A bateria com seus breques comandados pelo repinique de Marcelo Moyses e o apito de Mestre Amendoim são inesquecíveis. O pá do pandeiro do Roy e o ronco da cuíca do Vado Leal, mais conhecido como "Peão Véio", mostrava a beleza do ritmo do samba. A raça de Ilem Izaac Jr. o metaleiro do samba, alimentava ainda mais as batidas dos surdos Maracanã de Mário José Morete e Cezar Salvador (In Memoriam).  A Comissão de Frente, comandada pelo místico Célio Jão, o Goiano, saudando o público com suas cartolas. Eram um símbolo da nobreza malaquiana.  Esse passado será sempre presente e futuro. Adeus passado, jamais te esquecerei, pode me esperar que voltarei sempre. Obrigado a todos esses queridos amigos e amigas que sempre me fazem viajar voando nas asas da saudade:

"Vem cantar

 A doce melodia"...

 

 

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