“Panis Et Circensis” é tema do Sarau Solidário da APE, que ocorre hoje

“Vamos reviver o que explodiu no FIC. Como disse o jornalista Zuenir Ventura: ‘1968 não terminou’”, convida Freixo, o presidente da associação

VARIEDADES - OSLAINE SILVA

Data 18/05/2018
Horário 19:03

E como todo terceiro sábado do mês, hoje, às 19h30, tem mais uma edição do Sarau Solidário da APE (Associação Prudentina de Escritores), no centro Cultural Matarazzo, em Presidente Prudente. Com o tema “Panis Et Circensis”, a entrada equivale a um quilo de alimento não perecível, que será doado a uma entidade filantrópica. “Mas, pode chamar de ‘Tropicália’:  forma e conteúdo juntando características brasileiras e internacionais, arranjos de Duprat, unindo a tradição erudita com o rock jovem da época, dão o suporte a cenas libertárias – que foram reprimidas - porém, já estava marcada para sempre pela descoberta da modernidade e dos trópicos. ‘1968 não terminou’ disse o jornalista Zuenir Ventura. E vamos de Sarau Solidário reviver o que explodiu no FIC [Festival Internacional da Canção]”, convida o presidente da APE, Carlos Francisco Freixo, idealizador do evento mensal.

Freixo expõe que tudo começa com o álbum coletivo “Tropicália” ou “Panis et Circensis”, onde a urbanidade está muito visível. O assassinato em “Panis Et Circenses”; a industrialização e a falsidade do mercado de consumo em Parque Industrial; as maravilhas e contradições brasileiras de Geleia Geral, documentado no momento em que o Brasil solidificava a urbanização das cidades e suas consequências.

O presidente ainda destaca que no festival, como acontece em qualquer jogo de futebol, as polarizações aconteciam (será que estamos vivendo novamente essa época?). Os posicionamentos do “contra” e “favor” estavam à flor da pele. Sob a alcunha de Tropicalista em função do álbum coletivo “Tropicália” ou “Panis et Circensis”, Caetano Veloso entra para o festival com a canção “É proibido proibir” causando estranheza e comoção generalizada.

Nelson Rodrigues, em bela e surpreendente crônica, descreve como Caetano foi recebido pela plateia naquela noite: “A vaia selvagem com que o receberam já me deu uma certa náusea de ser brasileiro. Dirão os idiotas da objetividade que ele estava de salto alto, plumas, peruca, batom etc. etc. Era um artista. De peruca ou não, era um artista. De plumas, mas artista. De salto alto, mas artista. E foi uma monstruosa vaia (…) Era um concorrente que vinha ali, cantar; simplesmente cantar. Mas os jovens centauros não deixaram”.

Irado por tal recepção e acompanhado pelas distorções das guitarras dos Mutantes, Caetano contra-atacou: “Vocês não estão entendendo nada!”.

Frases de antologia

Naquele discurso, de acordo com as explicações de Freixo, Caetano, deixou frases de antologia. A mais famosa e profética delas: “Essa é a juventude que diz que quer tomar o poder? Se vocês forem em política como são em estética, estamos feitos”.

Freixo diz que vale a pena recorrer novamente a Nelson Rodrigues para compreender melhor o que foi aquela noite: “Quis cantar, e esmagaram seu canto (…) Súbito, os brios de Caetano Veloso se eriçaram mais que as cerdas bravas do javali. Ele começou a falar. Era um contra 1500. E um que dizia a sua feroz mensagem nos trajes mais impróprios para o seu rompante. Sim, estava de peruca, plumas, batom, salto alto etc. E disse as verdades que estavam mudas, sim, as verdades que precisavam ser ditas – urgentes, inadiáveis e santas verdades (…) Tivemos, pela fúria de Caetano Veloso, um momento da consciência brasileira”.

O FIC de 1968 terminou com polêmica e vaia a bela canção vencedora, “Sabiá”, de Tom Jobim e Chico Buarque; a plateia preferia a incendiária “Pra não dizer que não falei das flores”, de Geraldo Vandré.

 

 

Freixo expõe que tudo começa com o álbum coletivo “Tropicália” ou “Panis et Circensis”, onde a urbanidade está muito visível

 

“Mas, relembramos um dia que gesta por dez anos esse movimento e se perpetua como algo esteticamente revolucionário. Vamos vivenciar esse momento. Por fim, acaba reprimido pelo governo militar. A cultura do país, porém, já estava marcada para sempre pela descoberta da modernidade e dos trópicos. E tudo isso ainda permanece”, lembra Freixo.

 

Entre tantos

Adriana Cavalcanti e seus alunos estarão representando nesse sarau a época do Tropicalismo. “Esse movimento musical brasileiro tão marcante!”, entoa a cantora que adianta o repertório: “Coração Vagabundo”, “Alegria, Alegria”, “Tropicália”, “Saudosismo” e “Não identificado”  (Caetano Veloso); “Domingo no Parque” (Gilberto Gil); “Panis Et Circensis” (Mutantes).

 

BOX

 

Participantes

Adriana Cavalcanti;

Ana Luísa Nogueira;

Andrea Cardoso;

Bruna Cabriotti;

Camila Denari;

Camila Eugênia;

Celso Aguiar;

Dani Cláudia;

Erivelton Souza (pianista);

Gabriel Araújo;

Júlia Machado;

Karine Mazine;

Maria Clara Miotto;

Nayra Mendes;

Paulo Henrique;

Thaíse Torres.

Thiago Lima (percussionista);

Vários escritores

 

BOX 2

 

É PROÍBIDO PROIBIR

(o discurso de Caetano Veloso)

 

“Mas é isso que é a juventude que diz que quer tomar o poder? Vocês têm coragem de aplaudir, este ano, uma música, um tipo de música que vocês não teriam coragem de aplaudir no ano passado! São a mesma juventude que vão sempre, sempre, matar amanhã o velhote inimigo que morreu ontem! Vocês não estão entendendo nada, nada, nada, absolutamente nada. Hoje não tem Fernando Pessoa. Eu hoje vim dizer aqui, que quem teve coragem de assumir a estrutura de festival, não com o medo que o senhor Chico de Assis pediu, mas com a coragem, quem teve essa coragem de assumir essa estrutura e fazê‑la explodir foi Gilberto Gil e fui eu. Não foi ninguém, foi Gilberto Gil e fui eu! Vocês estão por fora! Vocês não dão pra entender. Mas que juventude é essa? Que juventude é essa? Vocês jamais conterão ninguém. Vocês são iguais sabem a quem? São iguais sabem a quem? Tem som no microfone? Vocês são iguais sabem a quem? Àqueles que foram na Roda Viva e espancaram os atores! Vocês não diferem em nada deles, vocês não diferem em nada. E por falar nisso, viva Cacilda Becker! Viva Cacilda Becker! Eu tinha me comprometido a dar esse viva aqui, não tem nada a ver com vocês. O problema é o seguinte: vocês estão querendo policiar a música brasileira. O Maranhão apresentou, este ano, uma música com arranjo de charleston. Sabem o que foi? Foi a Gabriela do ano passado, que ele não teve coragem de, no ano passado, apresentar por ser americana. Mas eu e Gil já abrimos o caminho. O que é que vocês querem? Eu vim aqui para acabar com isso! Eu quero dizer ao júri: me desclassifique. Eu não tenho nada a ver com isso. Nada a ver com isso. Gilberto Gil. Gilberto Gil está comigo, para nós acabarmos com o festival e com toda a imbecilidade que reina no Brasil. Acabar com tudo isso de uma vez. Nós só entramos no festival pra isso. Não é Gil? Não fingimos. Não fingimos aqui que desconhecemos o que seja festival, não. Ninguém nunca me ouviu falar assim. Entendeu? Eu só queria dizer isso, baby. Sabe como é? Nós, eu e ele, tivemos coragem de entrar em todas as estruturas e sair de todas. E vocês? Se vocês forem… se vocês, em política, forem como são em estética, estamos feitos! Me desclassifiquem junto com o Gil! junto com ele, tá entendendo? E quanto a vocês… O júri é muito simpático, mas é incompetente. Deus está solto! Fora do tom, sem melodia. Como é júri? Não acertaram? Qualificaram a melodia de Gilberto Gil? Ficaram por fora. Gil fundiu a cuca de vocês, hein? É assim que eu quero ver. Chega!”

 

Saiba Mais

Para o próximo mês: 16 de junho

Brega

Resenha: Seria o “brega” a manifestação mais simples da complexidade da existência humana? Às vezes parece ridículo, mas nos envolve num processo de reflexão das alegrias e dores do cotidiano. E, se isso nos faz felizes, que assim seja.

 

 

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