"O empreendedor deve saber o que quer fazer e aonde pretende chegar"

- ANDRÉ ESTEVES

Data 05/05/2018
Horário 09:53
Marcio Oliveira - Para Lucas, tecnologia é chave para verticalizar negócios: "o que se fazia em planilha, hoje se faz por meio de sistema"
Marcio Oliveira - Para Lucas, tecnologia é chave para verticalizar negócios: "o que se fazia em planilha, hoje se faz por meio de sistema"

O que começou como um sonho de otimizar locações comerciais em Presidente Prudente se transformou em um grupo empresarial composto por dez CNPJs (Cadastros Nacionais de Pessoas Jurídicas). Em 2009, o empreendedor Lucas Krasucki, 33 anos, assumiu sozinho o compromisso de tocar uma imobiliária que oferecesse imóveis de acordo com as necessidades de cada cliente. Quatro anos depois, no entanto, sentiu que seria preciso delegar funções e criar novas empresas para atingir o mercado de forma mais ampla. A partir da Luka Imóveis, surgiram novas sociedades, como a Luka Locações, a Luka Vendas e, em 2013, a Luka Malls, responsável pela elaboração e obra do Euromarket. Atualmente, o grupo administra mais de 700 imóveis, sendo que, deste total, 70% possuem caráter comercial e 30% são residenciais. Embora a maior concentração esteja na capital do oeste paulista, os prédios para locação e venda estão espalhados nas regiões Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste do Brasil e refletem o interesse de Lucas em criar um ecossistema que projetasse o sistema imobiliário de maneira inovadora para todo o país.

Em entrevista concedida a O Imparcial, o empresário enfatiza a necessidade de se manter atento aos avanços do mercado, especialmente em relação à “uberização” dos negócios. O termo está relacionado ao aplicativo Uber, que revolucionou o método de gerenciar e oferecer serviços. Além disso, Lucas fala sobre as qualidades que formam um bom empreendedor, os valores que deve ter em mente, as dificuldades a serem superadas e quais as estratégias para se manter em atividade nos dias atuais. Acompanhe nas linhas a seguir:

 

O Imparcial: Como se tornou empreendedor e por que o interesse no ramo dos imóveis?

Lucas: Em 2009, percebi que Prudente tinha uma carência de atender as necessidades daqueles que vinham procurar imóveis comerciais para locação. Na época, eu queria alugar um imóvel comercial, mas notei que as imobiliárias não estavam atendendo a contento ou que, sob meu ponto de vista, poderiam trabalhar de forma diferente. Uma vez que localizei o imóvel e acabei abrindo a imobiliária, passei a focar em quem tinha interesse em locação comercial e, a partir disso, fazer um trabalho inverso. Tivemos êxito de intermediar a negociação com atacadistas, farmácias e bancos e constatar que se entendêssemos as necessidades que aqueles parceiros locatários tinham, poderíamos replicar isso inclusive em outras cidades. Fomos para Campo Grande [MS], Dourados [MS], Rondonópolis [MT], Mogi das Cruzes [SP] e Sinop [MT] e, em menos de seis meses, conseguimos realizar mais cinco intermediações, nas quais percebemos que as empresas preferiam fazer negócio com quem já tinha feito negócio e entendia a metodologia ao invés de procurar novos corretores ou novas imobiliárias. Então tive a certeza de que profissionalizando sistemas e procedimentos, conseguiríamos atender melhor aquele que procura e obter escalabilidade. Como eu tinha que estar muito fora, prospectando e intermediando áreas, criamos várias empresas dentro de Prudente, cada uma com um propósito. Achamos por bem separá-las, cada qual com um sócio-operador, a fim de ter mais braços para alcançar um mercado maior. Ao invés do Lucas querer sair fazendo tudo sozinho e atendendo vários braços do mercado, fomos montando empresas e criando procedimentos que facilitassem a ampliação dos nossos negócios em nível nacional. Criamos empresas para fomentar nossas empresas e contribuir para esse ecossistema no que diz respeito ao mercado imobiliário.

 

Enquanto empreendedor, quais são os prós e contras de se investir no oeste paulista?

Eu vejo que há uma concorrência muito alta no Estado de São Paulo se comparado a outras cidades. Quando chegamos em outros Estados, como no Mato Grosso, por exemplo, provavelmente somos muito mais bem recebidos como investidores do que quando vamos desbravar o Estado paulista. E não é diferente em Prudente. Quando começamos lá atrás, as pessoas não conheciam muito o nosso propósito e até mesmo com os órgãos públicos houve barreiras. Entrar no mercado é complicado, mas quando você pensa em trabalhos inovadores, se torna mais difícil, sobretudo por estarmos um pouco distantes da capital. Um complexo comercial como o Euromarket, por exemplo, é um fato, porém, é muito difícil de fazer acontecer. Para qualquer ideia nova, é preciso projetar e convencer o investidor. Em seguida, você tem a burocracia junto aos órgãos competentes. Passado isso, é necessário lidar com a aceitação ou não do mercado e se vão comprar aquilo que estamos propondo. Depois, tem a expectativa das pessoas sobre a possibilidade de isso dar certo. Pensar de forma inovadora exige um pouco mais de transpiração. Quanto mais nos envolvemos em mais projetos, é natural que se criem mais problemas. A grande oportunidade que vejo no Brasil é que existe muito problema – e, ao invés de ficarmos de mãos atadas esperando ele crescer ou tomar proporções que o tornem irreversível, vamos buscar a solução e inovar cada vez mais. Como o mercado está mudando, temos que nos adequarmos e nos anteciparmos aos problemas. O ramo imobiliário mudou muito de dois anos para cá, em especial por conta da crise. Para agravá-lo ainda mais, está vindo a uberização, pois da mesma forma que há os hotéis e a Airbnb [serviço de anúncio e reserva de meios de hospedagem] e os táxis e a Uber, já há as imobiliárias virtuais, como a Quinto Andar e a Arbo Imóveis, que chegou a Prudente. Elas vêm para mudar totalmente o mercado e quem não estiver aberto a tais mudanças vai penar. Então a gente busca sempre se antecipar para que o impacto seja o menor possível.

 

Após mais de nove anos à frente de um negócio, quais são as dicas que você daria para quem deseja se tornar um empreendedor?

Independente do segmento, eu vejo que sociativismo é muito importante. Há três anos, percebendo as cicatrizes que poderiam ser trazidas pela crise financeira e os impactos da uberização, até mesmo as imobiliárias se uniram e montaram uma associação, na qual nos reunimos toda quinta-feira, em sede própria, para trocar experiências ao invés de ficar esperando acontecer. Inclusive, fizemos o primeiro Hackathon [evento que reuniu programadores, designers e outros profissionais ligados ao desenvolvimento de software para a solução de problemas imobiliários], no final do ano passado, em parceria com a Prefeitura. Se não estivéssemos juntos, não contaríamos com este apoio e, consequentemente, não teríamos o evento que tivemos. Seja qual for o ramo, os empresários precisam se unir em prol do benefício comum. Consequentemente, eles acabam colhendo bons frutos. No mercado imobiliário, percebemos que os incorporadores, por exemplo, estão se unindo para levar o esgoto onde têm que levar e trazer a água juntos. Antigamente, cada um fazia por si. Hoje, é mais fácil: “Vamos juntos, fazemos uma única obra e compartilhamos isso”. O que eu levo e coloco nos meus negócios é o compartilhamento e o sociativismo em benefício geral e não só em benefício da própria empresa.

 

Como apresentar um diferencial sendo um empreendedor?

É preciso estar sempre inovando, entender o que o concorrente, mesmo que seja parceiro, está fazendo e buscar fazer diferente. Se for para sempre fazer o que o outro está fazendo, não justifica. Por que o Airbnb chega tomando proporções enormes? Porque ele vem diferente. Recentemente, vi uma matéria falando que o [João] Dória [PSDB], antes de sair do cargo de prefeito, liberou um sistema de aplicativo para os taxistas. Isso só aconteceu porque chegou a Uber. Então para proteger os táxis, os taxistas se juntaram e buscaram uma alternativa melhor. Quem ganha com esse sociativismo? A população, que usufrui de um serviço com qualidade melhor e preço mais justo. Quando buscamos inovação, saímos na frente.

 

Quais os valores que um empresário deve ter e o que deve guiar a sua conduta profissional?

Ele tem que acordar de manhã, trabalhar e ter a tranquilidade de dormir sabendo que não prejudicou ninguém e que fez o melhor de si. Antes de começar, toda empresa precisa ter visão, missão e valores e isso tem que estar muito ligado entre os colaboradores. Cada empresa tem a sua missão. Não adianta eu falar dos meus valores, porque podem ser diferentes dos valores de um terceiro e ambos estarem certos. Isso depende de cada entendimento e do compromisso que aquelas pessoas têm consigo mesmas ou com a empresa. Mas, antes de qualquer coisa, o empreendedor deve saber o que ele quer fazer e aonde pretende chegar. Se sabe isso, é o início de um caminho. O nosso trabalho requer planejamento, inovação e trabalho.

 

Você consegue vislumbrar quais os melhores e os piores segmentos para se investir?

Eu acho que nada é tão ruim que não possa melhorar e nada é tão bom a ponto de todo mundo investir naquilo. Entendo que o mercado imobiliário é uma peça importante para a economia, porque quando ele vai bem, o setor da construção civil melhora, bem como aquele que vende o material de acabamento ou faz o mobiliário. É um ciclo. Eu não tenho autoridade para falar onde investir. Percebo que há aqueles que não investem de jeito nenhum em imóveis residenciais e estão certos, assim como há outros que não investem de jeito nenhum em imóveis comerciais e também estão certos. Cada um tem a sua linha de trabalho, logo é muito difícil pontuarmos aquilo em que podemos investir, porque o que dá certo para mim, eventualmente pode não dar certo para um terceiro.

 

A crise financeira fez com que se tornasse mais cauteloso com relação aos seus investimentos?

A crise chacoalha o mercado e mostra às pessoas o que é melhor para elas. Há três ou quatro anos, quando o mercado ainda vivenciava um boom imobiliário, as pessoas iam naquilo em que os outros iam. Todo mundo seguia junto e ganhava. A partir de então, perceberam que não era bem assim e que agora é preciso saber o que é bom para você e seguir aquele rumo. Entendo que tudo o que passamos nesses últimos anos nada mais foi do que uma pós-graduação para o mercado, a fim de perceber que tudo o que aconteceu antes não vai se repetir. O mercado está mudando e temos que estar aptos.

 

Qual a avaliação que você faz do mercado hoje? Está mais otimista?

Quanto a Presidente Prudente, estou mais otimista e vejo grandes empresas vindo para cá. Muitos imóveis que antes ficavam fechados por muito tempo estão se adequando à nova realidade. Quando um inquilino desocupa o prédio, já chega outro. Um exemplo disso é a [Avenida] Washington Luiz, onde houve uma abertura muito grande de estabelecimentos gastronômicos diferenciados, com qualidade e sempre cheio de pessoas. Agora é o momento de Prudente. Percebo que as empresas que estavam nas capitais viam a distância para o município como um fator impeditivo. Já hoje, acredito que veem como uma oportunidade, porque o mercado que elas trabalhavam se tornou tão saturado que tiveram que expandir. Prudente é um mercado que ficou parado por um tempo para essa expansão, mas que atualmente é uma oportunidade. Enquanto uns podem estar reclamando, outros estão nadando de braçada e aproveitando essa maré boa.

 

Quais são seus planos e estratégias para o seu negócio daqui para frente?

Para verticalizar os nossos negócios, entendo que a tecnologia é fundamental e deve ser utilizada como uma ferramenta – e não a solução – para escalabilizar os nossos serviços e para que a gente possa replicar com mais velocidade tudo aquilo que já estamos fazendo. A nossa aliada daqui para frente se chama tecnologia. Temos em andamento mais de 13 projetos tecnológicos voltados ao mercado imobiliário, a fim de replicar o que estamos realizando na unha. O que antes se fazia em planilha, hoje se faz por meio de sistema. Se antes demorávamos uma tarde toda para realizar uma vistoria em um imóvel, hoje conseguimos em menos de uma hora – e até melhor. Criar procedimentos e trazer tecnologia é o que estamos fazendo para conquistar cada vez mais o nosso mercado.

 

Para encerrar, que mensagem deixa para os antigos e futuros empreendedores?

Independente de ser novo ou antigo no ramo, a inovação é a alma do negócio. Há o pensamento de que é preciso pensar fora da caixa. Eu não acho que temos que pensar fora da caixa, mas pular fora dela e explodi-la. Se você quer estar no mercado ou entrar nele, tem que pensar diferente do que aconteceu atrás, porque é passado. Temos que pensar para frente e na evolução. Não pense fora da caixa, pule fora dela e exploda para nunca mais voltar. Essa é a minha frase final.

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