“Nosso objetivo é desenvolver a região, para não sermos eternos coadjuvantes”

Alexandre Bertoncello - Professor, pesquisador e coordenador do Gdecor (Grupo para Desenvolvimento Econômico e de Competitividade Regional)

PRUDENTE - GABRIEL BUOSI

Data 19/10/2019
Horário 09:33
José Reis - Alexandre: "Ou começamos a enriquecer em 11 anos, ou corremos o risco de ficarmos eternamente pobres”
José Reis - Alexandre: "Ou começamos a enriquecer em 11 anos, ou corremos o risco de ficarmos eternamente pobres”

Ele é pesquisador, professor da Unoeste (Universidade do Oeste Paulista), em Presidente Prudente, e coordenador do Gdecor (Grupo para Desenvolvimento Econômico e de Competitividade Regional), que possui como foco a busca por caminhos de desenvolvimento para o oeste paulista. Aos 46 anos, se formou em Administração e buscou o mestrado em Internacionalização de Produtos, doutorado em Economia Agrícola e pós-doutorado com base no desenvolvimento regional, que é justamente o foco de um trabalho hoje e que visa, com a ajuda universitária, reestruturar a economia dos municípios regionais.

Como classificaria o Gdecor?

O grupo surgiu após eu fazer um doutorado fora, na Itália, e perceber que algumas coisas que ocorriam lá, como as funções desenvolvidas pela universidade junto à sociedade, poderiam ser ampliadas aqui da mesma forma. Foi quando vi, há quatro anos, essa necessidade de começar a desenvolver um grupo para entender as necessidades da região, ideia que colocamos em prática na Unoeste.

Quais são as atividades desenvolvidas hoje pelo grupo?

O primeiro passo de tudo foi entender por que a região gerava tão menos riqueza do que o restante do Estado. Após a graduação, estudei nove países africanos para entender com a agricultura pode reduzir a pobreza. Claro que não temos a miséria que existe lá, mas estamos em um Estado rico, mas numa região pobre. Por isso, começamos a usar o mesmo modelo de temática de desenvolvimento, tomando como base o estudo e tentando entender como gerar riqueza aqui. Ao todo, foram dois anos de levantamento de dados estatísticos e, curiosamente, muitas coisas que justificam a pobreza lá no continente africano, acabaram justificando a nossa pobreza aqui.

Com tudo isso, quais seriam as barreiras do desenvolvimento regional?

Na verdade, não somos a região mais pobre do Estado, temos outras que produzem menos. São diversos os fatores que nos colocam nesta posição, como fatores geográficos, por estarmos mais distantes da capital, mas existe outro fator estruturante: as três regiões mais pobres, e que fazemos parte, possuem terras devolutas e isso nos inibiu, por exemplo, do desenvolvimento agrícola.

E com tudo isso em mãos, como foi a conversa com os municípios da região para apresentar o trabalho que pode ser desenvolvido por vocês?

Convidamos 34 municípios da região de Prudente, os que estão mais próximos, em maio deste ano, mas apenas oito vieram. Destes oito, um deles aceitou o desafio de tentar se desenvolver através de ações práticas que podemos oferecer. A intenção do encontro foi a de mostrar um relatório, que todos acharam ótimo, mas na hora de assinar os contratos, nos deparamos com a recusa de sete administrações.

O que impede as prefeituras?

Os prefeitos estão preocupados, isso é fato, mas é difícil fazer um acordo e por alguns fatores. Há a parte financeira, por exemplo, pois eles devem pagar duas bolsas de estudo para pesquisadores do nosso grupo, ao longo do trabalho. Além disso, temos uma legislação que impede os municípios de conseguirem se desenvolver.

Como funciona o pagamento da bolsa?

Percebemos que o trabalho tem que ocorrer in loco e de forma intensa. As bolsas seriam de seis meses, com valores em torno de R$ 600, e os pesquisadores trariam relatórios a cada dois meses, e que ao fim de seis meses apresentariam ações públicas. Em paralelo, os estudantes fazem pesquisas e esses trabalhos nutrem para os projetos que vamos desenvolver com os municípios. É um grupo da própria Unoeste, hoje estamos em seis alunos, e a ideia é crescer isso, inclusive com outras instituições participando. Os jovens são das turmas de Administração, Ciências Contábeis e Agronegócio.

E quais os exemplos práticos do que pode ser feito neste trabalho com as administrações?

Essa é a parte boa. Não é difícil promover o desenvolvimento e o poder público pode ajudar induzindo ou permitindo que aconteça. Um exemplo simples é o caso dos pecuaristas da região, mas que acabam abatendo o gado em outro município. Apesar de eles gerarem os custos da produção, todo o dinheiro do capital vai para outra cidade que receberá o abate, e o que faz, consequentemente, com que o município que produz não receba todo o dinheiro que poderia. É preciso desse tipo de olhar nas cidades, para podermos identificar o que elas possuem de estrutura e sabermos investir em cima disso.

A situação regional é preocupante? Ainda temos tempo?

Temos 11 anos para chegar em 2030, quando fechará a janela demográfica do Estado. Isso significa que vamos começar a envelhecer mais rápido. Por isso, ou começamos a enriquecer em 11 anos, ou corremos o risco de ficarmos eternamente pobres.

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