“Não foi possível completar a ligação”

“Ocupado. Fechado para balanço”. “Não foi possível completar a ligação”. “Volto mais tarde”. “Não há vagas”. “Não tenho tempo”. “Estou cansada (o)”. “Não perturbe com suas queixas”. “Busque ajuda, não posso ajudar”. “A vida é curta demais para aturar suas manhas ou birras”, penso que assim segue o termômetro modulando os relacionamentos amorosos na atualidade. Observamos com certa frequência, já há algum tempo, jovens recém-casados apresentando certa turbulência, no “sim” dito em cerimônia religiosa durante o casamento. Descasamentos estão sendo realizados, em menos de três meses de contraídas núpcias.

E o que está ocorrendo? Que fenômeno é esse que vem se tornando algo do cotidiano e banalizado? São resultados da intolerância à frustração? É algo que tem a ver com impermeabilizações emocionais? Estamos como a cidade de São Paulo? Em decorrência de tanto concreto sobre as calçadas e avenidas, e na ocorrência de chuvas intensas, inundações são inevitáveis? Estamos inundados por tantas informações, redes sociais, estímulos externos e não estamos dando conta dos estímulos internos. Onde foi parar o encantamento pelo outro? Por onde andam os corações em taquicardia quando o amor vem chegando perto? E as floriculturas, o que dizem? Será que é só Roberto Carlos que está arremessando rosas vermelhas para a plateia?

Jovens casais de namorados manifestam total ausência de libido e desejos para amar. Estão cansados, dizem. Beijar já está ficando obsoleto para os noivos. Atualmente, alguns estão efetivamente casando, porque separar dá mais trabalho. Começar tudo de novo onera demais, dizem. É uma realidade, a banalidade do velho e especial amor. Suas formas de expressões estão minguando, e o outro já não tem mais importância. Está tudo muito instantâneo com os contatos virtuais. Não precisamos sair de casa. Há casamentos, onde não há entrega na relação e a mínima frustração já voltam para a casa dos pais.

Pode ser excesso de proteção e nenhum contato com a realidade. Ou seja, ausência de frustrações. Caminhamos para um mundo da magia ou fantasia. Não podemos e não lidamos bem com as perdas, com os “nãos”, vazios, momentos de tédio, separações, etc. O que sabemos com propriedade, é encontrar formas de preencher muito bem e com qualquer coisa as lacunas da desestabilização.

Drogas, divórcios, alcoolismo, compulsão pela compra, comida, medicalização, fuga da realidade, negação, racionalização, impermeabilização, blindagem, etc. “Não foi possível completar a ligação”, surge então, o divorcio. Não foi possível ficar em intimidade. Não foi possível ligar-se às pessoas, porque hoje, a nossa própria pessoa torna-se estranha a nós mesmos. Os casais estão estranhos um ao outro. O narcisismo impera tornando as relações amorosas estéreis. Não há fertilizações tampouco fecundação.

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