“A tinturaria foi a melhor profissão que eu escolhi”, Orlando Spiguel, tintureiro

PRUDENTE - WEVERSON NASCIMENTO

Data 06/07/2019
Horário 07:30
José Reis - "Eu acredito que é só manter o que estamos fazendo para meu futuro e o da minha esposa"
José Reis - "Eu acredito que é só manter o que estamos fazendo para meu futuro e o da minha esposa"

Orlando Spiguel, 80 anos, começou trabalhar ainda jovem para o sustento de sua família. Dentre as mais diversas profissões, escolheu uma que te desse retorno rápido no momento. Com o passar dos anos o serviço por necessidade, se tornou uma profissão de conquistas ou, a profissão dos sonhos. Chegou a Prudente em 1959 e enfrentou as mais quentes temperaturas de um ferro de passar, de um negócio que ainda não era seu. Foi, então, que em 1961 decidiu deixar de ser empregado e apostou no seu potencial enquanto tintureiro. No fundo de sua casa com latas e lenhas para tintura, o jovem se debruçava sobre as roupas das tradicionais famílias prudentinas, como a Marinho, Medeiros, Junqueira e Botigeli. E foi com essa oportunidade que se manteve até hoje na salinha quente e escura, a então nomeada Tinturaria Spiguel, na Vila Marcondes.

O Imparcial: Como começou nesta atividade?

Orlando: Eu comecei em Pirapozinho em 1954. Eu iniciei como entregador de roupa e depois eu aprendi lavar e em 1959 em vim para Presidente Prudente. Aqui trabalhei mais dois anos de empregado e em 61 comecei por conta própria os serviços de tinturaria. Aliás, desde quando eu estava empregado, já fazia alguns serviços, minha mulher lavava durante o dia e a noite eu passava. Depois de 61 eu abri meu próprio negócio e estou aqui na Vila Marcondes até hoje, ou seja, há quase 60 anos em Prudente.

O que faz um tintureiro no dia a dia?

A tinturaria virou lavanderia. Eu tingia muita roupa no fundo de quintal, era feito com lata, bem simples, e depois que surgiu os tingimentos mais industrializados, as lavanderias foram deixando de lado o tingimento, porque gasta lenha e se for ao gás, também gasta muito. Além disso, as roupas não são mais como as de antigamente. Antes os tecidos eram de casimira, risca de giz... hoje já é tudo sintético, então, não dá para tingir em fundo de quintal.

As mudanças de tecidos impactaram no seu trabalho?

Muito. Uma vez eu tingi uma blusa e avisei ao dono que era difícil saber se era lã ou acrílica e o risco de encolher no tingimento. Recebi autorização dele, fiz e encolheu tudo. Depois disso, começou a surgir no mercado essas roupas de verão, como tergal, as sintéticas e foi difícil continuar. Até hoje muita gente pergunta se eu posso tingir e eu digo que, infelizmente, não mais. Se pegar um tecido e ele esticar, até no passar a ferro mais quente, ele danifica.

Qual era e qual é sua principal clientela?

A minha clientela sempre foram as famílias, eu já trabalhei com roupas de hotel, mas eu nunca gostei muito. Então, sempre trabalhei com serviços para famílias. A escolha de trabalhar somente com este público foi diante da praticidade. Até hoje eu presto serviços para a família Marinho, Medeiros, Junqueira, Botigeli, entre outras que ainda mandam roupas e são meus fregueses desde quando eu comecei. Lógico que muitos não enviam mais tantas roupas, pois os filhos cresceram.

Como é feita a lavagem das roupas?

Eu sempre gostei de lavagem manual, nós não usamos máquina para lavar roupa, e também passamos de forma manual. Há blusas que eu gasto uma hora, uma hora e meia para passar, mas elas ficam perfeitamente passadas. Aqui, você tira toda “quebrinha” que tem, todo defeitinho, pois se você passar no vapor e tem uma quebrinha ou algo assim, ele não vai tirar.

Quais as principais conquistas trazidas pelo trabalho?

Foram conquistas muito grandes. Porque [emocionado], o começo foi muito difícil, desde o início do casamento foi sempre na pobreza. A tinturaria foi a melhor profissão que eu escolhi para vida e que Deus me deu. E [emocionado], devagarzinho a gente foi conquistando. Minha conquista financeira foi muito boa, não posso dizer que é ruim, porque não é. Tenho meus bens e ajudei meus filhos fazerem as casinhas deles. Um dos meus filhos, que hoje trabalha comigo, se formou em Ciências Contábeis e trabalhou comigo desde os 8 anos, sempre me ajudando, depois ele trabalhou no banco durante 14 anos e saiu e voltou trabalhar comigo. Ele gosta de trabalhar com a lavanderia e não quis procurar mais a profissão dele. Os mais velhos não tiveram condições de estudar porque não tinha como, as coisas só vieram melhorar um pouco na nossa vida depois que instalou o telefone [1978], pois ficou muito mais fácil do freguês ligar para gente. E como a gente na época pagava aluguel, era complicado.

Como o senhor vê a parceria do seu filho?

[Emocionado] eu valorizo muito porque ele é muito bom, muito educado, sem ele eu não sou ninguém [emocionado], e também sem eu, ele não é ninguém. Meus filhos têm suas profissões, as meninas são cabeleireiras e os meninos, um se formou e outro não porque quis casar cedo. Porém, mesmo se tivesse estudado, teria que parar porque ele casou mais cedo do que o mais velho, mas hoje ele é funcionário público e tem um bom emprego.

Quais os planos para o futuro?

Eu acredito que é só manter o que estamos fazendo para meu futuro e o da minha esposa. Eu luto, agora, pelos meus filhos. Minha profissão significa tudo na minha vida, eu gosto muito dessa. Então, às vezes, durante o domingo, quando eu não vou para minha chácara, eu faço questão de abrir aqui e ficar até às 10 horas, mesmo não fazendo nada eu fico aqui. Minha vida é tudo isso aqui.

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