“A sociedade é peça principal no combate à corrupção, pois ela é a primeira a sentir”

Nicole Verillo é gestora de políticas públicas e esteve na cidade, a convite da UEPP (União das Entidades de Presidente Prudente e Região)

PRUDENTE - THIAGO MORELLO

Data 27/04/2019
Horário 08:30
Francinara Nepomuceno/UEPP - Para Nicole, polarização existente é um problema grave e preocupante
Francinara Nepomuceno/UEPP - Para Nicole, polarização existente é um problema grave e preocupante

Graduada em Gestão de Políticas Públicas pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo, Nicole Verillo é fundadora e responsável pelo Apoio e Incidência Anticorrupção da Transparência Internacional - Brasil. A organização, em parceria com as Escolas de Direito da Fundação Getulio Vargas (FGV), liderou o processo de construção coletiva do maior pacote anticorrupção do mundo: as Novas Medidas contra a Corrupção, que hoje tramita no Congresso Nacional.

A convite da UEPP (União das Entidades de Presidente Prudente e Região), Nicole esteve anteontem em Presidente Prudente, onde palestrou sob o tema “O papel da sociedade no combate à corrupção”, através dos resultados da Transparência Internacional - Brasil. No país, a organização atua no apoio e mobilização de grupos locais de combate à corrupção, produção de conhecimento, conscientização e comprometimento de empresas e governos com as melhores práticas globais de transparência e integridade, entre outras atividades.  Fundada em março de 1993, em Berlim, a entidade está no Brasil desde 2016 com uma estrutura própria.

Em um bate-papo com O Imparcial, a gestora falou um pouco mais sobre a importância de se discutir o combate da corrupção com a sociedade, bem como ações que a população deve desenvolver. Ademais, ela tratou de pontos como o “grave” cenário nacional e preocupação quanto à popularização. Confira na íntegra:

O Imparcial: Quais são as atividades desenvolvidas e medidas propostas pela entidade?

Nicole: Todo nosso esquema visa o combate à corrupção, e atua em diversas frentes, seja nos setor público ou privado. Não há apenas uma linha de raciocínio forte a ser seguida, pois todos os trabalhos visam esse produto final. Dentro, a gente pode mencionar o pacote anticorrupções proposto e que hoje tramita no Congresso Nacional, com 70 pontos importantes.

Qual a avaliação que você faz da corrupção no Brasil hoje, pensando em todas as instâncias?

Em cada município é onde mais sente a corrupção. E isso ocorre quando não tem educação de qualidade, falta de médico, acesso a um serviço público. E no caso de algumas cidades, quando não tem até água ou tratamento de esgoto. Porque a corrupção promove menos investimentos. Mas tudo está atrelado, Município, Estado e União. O quadro do Brasil hoje em relação à corrupção é muito grave. E a gente pode medir isso pelo através do IPC (Índice de Percepção da Corrupção), que pelo quinto ano só piora. Por mais que hoje em dia tenham operações, como a Lava Jato, que vem com o intuito de combater tais atos, não há uma resposta rápida. Já faz uns bons anos que o diagnóstico não é legal.

Uma das ações dessa organização é a construção de um mundo em que governos, empresas e a sociedade estejam livres da corrupção. Isso seria um pensamento utópico?

É uma visão de mundo que temos, de um mundo que a gente realmente gostaria que fosse, livre da corrupção. Porque a necessidade de mais transparência nacional vem não só para combater a corrupção, mas por justiça social, pois é isso que ela afeta. A gente busca um mundo livre e é necessário continuar com medidas e ações que viabilizem isso.

Como a sociedade como um todo pode atuar para erradicar a corrupção em todos os espaços?

A sociedade é peça principal no combate à corrupção, pois ela é a primeira a sentir. É ela quem está nessa luta primeiro, porque quando não se tem educação, é a criança que está vendo. Quando não há transporte escolar, é o aluno que sente. Quando não tem médico, é a saúde de um povo que vai na conta. Acompanhar o município é muito importante, mas é preciso olhar para todas as instâncias, buscar iniciativas e exigir a aprovação. É necessário fiscalizar e cobrar.

A sociedade ainda é, em sua maioria, passiva quanto aos atos de corrupção?

A gente está vivendo hoje um momento de polarização muito grave, que seria um lado contra o outro. Ao mesmo tempo em que hoje os eleitores estão mais em alerta, criou-se essa atividade cega, que separa os lados. O momento é de progressistas e conversadores, direita e esquerda, entrarem juntos em combate à corrupção. Mas essa polarização é um processo muito grave e perigoso, pois fortalece quem está no poder, e isso é globalmente falando. Nesse cenário, é quando há espaço para políticos com discursos rasos e soluções simples, visando fortalecer a democracia. Abre caminho para lideranças que não querem combater como realmente dizem, mas usam desse discurso com ações que não são realmente feitas para contagiar aquele que está cansado da corrupção. Isso gera uma preocupação muito grande.

Dentro das redes sociais, essa polarização pode ser vista com mais força. Qual a melhor forma de abordar esse assunto sem que vire uma discussão?

A gente tem conversado no Congresso Nacional, com lideranças de todos os lados, pra mostrar que a corrupção afeta a todos. Ninguém é a favor ou assume ser. Então, quando há proposta de projetos de lei que visam à transparência, como a criminalização do caixa dois, a queda do foro privilegiado e entre outros, há a concordância de todas as partes. Sendo assim, a melhor arma é o conhecimento embasado. A abordagem deve vir com uma solução sistêmica e inteligente. E isso pode ser feito através da amostragem de estudos sérios e pesquisas de especialistas, por exemplo.

 

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