“A medicina não é uma profissão e sim uma missão”

Carlos Cesar Bongiovanni Marinelli - médico cardiologista da Florida Medical Clinic

PRUDENTE - WEVERSON NASCIMENTO

Data 14/12/2019
Horário 07:45
Sinomar Calmona - Carlos Bongiovanni: "Você não pratica medicina, você se casa com ela!"
Sinomar Calmona - Carlos Bongiovanni: "Você não pratica medicina, você se casa com ela!"

Carlos Cesar Bongiovanni Marinelli, 55 anos, médico cardiologista, reside e pratica a sua especialidade na cidade de Tampa, nos Estados Unidos, desde 1998. Nascido em Presidente Prudente, mudou-se com parte de sua família para Londrina, Paraná, em 1977. Após terminar o colegial, cursou faculdade de Medicina na UEL (Universidade Estadual de Londrina), onde recebeu seu diploma em 1988. Em seguida, mudou-se para os Estados Unidos em 1989, para dar seguimento aos estudos e à carreira médica. Ao todo, esteve afiliado à Universidade de Iowa por 8 anos, de 1989 a 1997. Após a conclusão do seu treinamento médico mudou-se para Tampa, no Estado da Flórida, onde atua profissionalmente como cardiologista desde 1998. Atualmente, faz parte da Florida Medical Clinic, um grande grupo com mais de 200 médicos representando todas as especialidades clínicas. Ele é filho de Mafalda Bongiovanni, que é natural de Prudente e foi apresentadora de televisão por mais de 30 anos em Londrina, e de Humberto Marinelli, que é músico virtuoso e professor aposentado, e reside em Prudente desde quando era muito jovem. Carlos está passando uns dias em sua cidade natal para celebrar o aniversário de seu pai, que está completando 80 anos de vida agora em dezembro.

O Imparcial: Como iniciou o amor pela profissão?

Carlos Cesar: Quando eu era criança, a minha avó Maria Cortez Bongiovanni foi diagnosticada com doença de Chagas. Eu nem sabia na época que isso era um problema de coração, eu devia ter um seis, sete anos de idade, e já encuquei que eu gostaria de ser médico cientista, porque eu queria encontrar a cura para aquela doença que ela tinha. Então, desde essa época eu decidi que Medicina era o que eu queria fazer, eu nunca pensei em outra coisa na minha vida. Eu fiz Medicina na Universidade Estadual de Londrina e foi uma passagem muito boa. A profissão exige muito do indivíduo, tanto que para entrar em uma escola de Medicina é muito concorrido, mas, por sorte, passei no primeiro que prestei. Eu tinha certeza que era lá que eu queria fazer, então, me formei em 1987.

O que o motivou a ir aos Estados Unidos?

Desde adolescente eu tinha muito curiosidade e vontade de ir para os Estados Unidos, não necessariamente por causa da tecnologia. Eu era fascinado com os Estados Unidos e o que a gente ouvia das coisas de lá. E, como eu nunca dou o braço a torcer, eu acabei um dia arrumando a mala, pegando a esposa e a filha e nós fomos parar nos EUA. Posso te dizer que todas as pessoas com quem eu conversei, foram bastante negativas e não me incentivavam a fazer isto, mas dou graças a Deus que eu fiz, porque foi realmente uma mudança muito boa e importante na minha vida. Então, estou lá desde 1989.

Como é a sua atuação como médico cardiologista?

Depois que eu terminei os estudos na Universidade de Iowa, centro norte dos Estados Unido, nós fomos para Flórida, e estou morando em Tampa já há 22 anos. Inicialmente eu fui treinado em cardiologia geral, imagens e também hemodinâmica. Eu pratiquei a hemodinâmica por 19 anos e depois, por questões de saúde, eu precisei focar em uma área diferente. Hoje, eu pratico quase que, exclusivamente, em uma clínica. Eu faço parte de clínica grande e com várias especialidades. O meu foco hoje é realmente mais cardiologia clínica, prevenção e imagens. Então, a gente faz todos os exames e diagnósticos que estão relacionados à cardiologia e que não são invasivos.

Há diferenças na área em que atua, em comparação com o Brasil?

Eu acho que no Brasil você tem profissionais extremamente competentes, mas a tecnologia e a facilidade com que você pode obter certos exames ou certos medicamentos são muito diferentes fora do Brasil. O Brasil, infelizmente, está muito atrás nesse sentido. A capacidade do profissional é excelente, tanto que os brasileiros, de forma geral, os que conseguem ir para o exterior, principalmente os Estados Unidos, se destacam muito. Mas acho que a tecnologia e a facilidade de obter certas coisas, aqui, são muito mais difíceis. Por exemplo, na última década ou nos últimos cinco anos, principalmente, a ressonância magnética, a tomografia computadorizada, e também ecocardiográfica avançaram muito. A tecnologia melhorou muito, e a facilidade com que a gente tem acesso a esses exames lá, é bem rápida, é quase que imediata.

Pode citar exemplos dessa diferença?

Sim, cito como exemplo a angio-CT (Angiografia) das coronárias. Quando eu preciso desse exame lá, eu obtenho ou no mesmo dia ou no dia seguinte, aqui no Brasil, eu tenho exemplos – dentro da família –, onde você consegue esse exame em uma ou duas semanas. O resultado de exame lá sai no mesmo dia e, aqui, ele sai alguns dias depois. Então, existe um lapso de tempo entre o exame, o laudo e quando esse exame chega para disposição do médico e do paciente. Lá isso é mais rápido, quase que imediato.

A sociedade americana é mais preocupada com a saúde ou não?

Se for com relação à influência ou participação do governo, eu acho que a resposta é sim. O governo americano talvez por questão moral, por reinvindicação do povo, é muito mais imediatista, ou seja, responde muito mais às necessidades do indivíduo americano. Eu acho que no Brasil existe uma certa defasagem com relação a isso. Principalmente quando você lida com instituições governamentais, como SUS (Sistema Único de Saúde). Existe uma limitação, vamos dizer assim, e essas limitações, em minha opinião, eu acho que é muito mais política do que real.

Pode nos contar alguma história que marcou a carreira?

Sim, a primeira paciente que foi a óbito, quando eu ainda estava em treinamento em Londrina. Uma menina de oito anos que faleceu porque tinha leucemia. Isso foi uma coisa que me marcou demais e já faz 35 anos que isso aconteceu. Eu guardo a fisionomia dessa criança na minha cabeça e não consigo esquecer. Com relação a uma experiência positiva na minha carreira, eu lembro que quando a minha avó ficou muito doente, aquela que tinha doença de Chagas, eu participei bastante dos cuidados dela, e eu me comunicava muito com minha família, ou seja, dava opiniões de como fazer ou como eu estaria fazendo. Eu tenho certeza que se não houvesse certa comunicação, talvez ela não tivesse vivido tanto tempo como viveu. Então, isso para mim é muito importante, saber que eu pude participar de maneira positiva em um caso que já não tinha mais jeito.

Existe algum objetivo a ser alcançado ainda na carreira?

Eu acho que já alcancei tudo que eu precisava alcançar na minha carreira. A minha avó teve muita influência na minha vida, e eu gostaria muito de ter me envolvido mais no diagnóstico e tratamento dela antes. Talvez a finalidade tivesse sido um pouco diferente, mas em termos do que eu já cheguei a conquistar – que não foi sozinho e sim com a ajuda de muita gente – eu conquistei tudo. Enfim, eu digo que medicina não é uma profissão e sim uma missão. O reembolso e a remuneração vêm como uma consequência e não como uma causa. Então, para todos aqueles que têm amor e querem se dedicar a essa missão, vão em frente! Você não pratica medicina, você se casa com ela!   

PERFIL

Nome: Carlos Cesar Bongiovanni Marinelli

Idade: 55 anos

Formação: Graduação em Medicina - Universidade Estadual de Londrina; pós-graduação em pesquisas cardiovasculares, clínica geral, cardiologia e hemodinâmica - Universidade de Iowa;

Atividade profissional: Médico cardiologista no Florida Medical Clinic

Onde nasceu: Presidente Prudente

Esposa: Claudiane Marinelli

Filhos: Christine Marinelli

Contato: cmarinelli02@earthlink.net

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