“A coleta seletiva é um abraço carinhoso no planeta”

Vânia Aparecida Alves Vilela - cooperada da Cooperlix

PRUDENTE - MARCO VINICIUS ROPELLI

Data 26/10/2019
Horário 09:18
 Paulo Miguel - Mesmo aposentada, Vânia não pretende deixar o trabalho na esteira
Paulo Miguel - Mesmo aposentada, Vânia não pretende deixar o trabalho na esteira

Vânia Aparecida Alves Vilela, 60 anos, viu surgir, crescer, cair e agora, vê se reerguer, após o incêndio em julho de 2018, a Cooperlix (Cooperativa de Trabalhadores de Produtos Recicláveis) de Presidente Prudente. A cooperada não sabe se é ela quem faz parte da história da Cooperlix ou se é a cooperativa que faz parte da vida dela. O que Vânia tem certeza é que o trabalho no local a faz feliz e a renda que a reciclagem gera ajuda não somente ela, mas dezenas de famílias, a viver melhor. A cooperada gosta de fazer a diferença na vida da sociedade, e sem dúvidas, faz: o trabalho de coleta seletiva é um abraço carinhoso no planeta e no meio ambiente.

Como é para a senhora trabalhar na Cooperlix?

Para mim é uma satisfação muito grande. Estou na cooperativa desde o início, a vi crescer, faz 18 anos que estou aqui, a mesma idade da Cooperlix. Lembro do primeiro tijolinho. Trabalhei antes, uns 5 ou 6 meses no lixão, aí começamos a montar a cooperativa. Apesar do momento difícil que passamos (em decorrência do incêndio que consumiu o antigo barracão da cooperativa), é uma alegria muito grande fazer parte disso, agradeço a Deus e à Cooperlix que entrou na minha vida. Mesmo com as dificuldades, gosto daqui. Não tenho vergonha de usar a roupa da Cooperlix, sou bem recebida em qualquer lugar com esse uniforme. Eu acho que se a gente tem um lugar que a gente gosta e dá valor tem que ter orgulho.

A senhora se sente bem de, em seu trabalho, colaborar com a sociedade e o meio ambiente?

Eu vejo o mundo que a gente vive hoje. Se a gente joga uma garrafa pet na rua, nós sabemos que vai para os bueiros, faz mal para o meio ambiente. Aqui eu aprendi muito, antes não sabia nem para onde ia o lixo, ou melhor: aqui temos 90 cooperados que recolhem lixo nas ruas, então, para o meio ambiente é importantíssimo ter a coleta seletiva. A gente vê ainda muito material reciclável que vai para o lixão e não é aproveitado. A população de Prudente já está informada que existe a Cooperlix, que existe esse local que pode reciclar e gerar renda.

Quais as principais diferenças de trabalhar no lixão e na cooperativa?

É uma diferença muito grande. Lá não tinha a oportunidade que tenho hoje, melhorou 100%. Só de chegar aqui já é diferente. Eu atendo visitas de crianças, escolas, então, é uma satisfação grande, minha vida melhorou muito. Em questões financeiras também é melhor, eu não sou aquela pessoa ambiciosa, para mim o básico já serve.  A qualidade de vida é outra.

A Cooperlix faz parte da história de sua vida?

Meu esposo, Henrique Tadeu de Carvalho, trabalhou no lixão. Minha filha, Gislene Aparecida Vilela, também. Aí surgiu a cooperativa, nós viemos juntos para cá, meu marido e minha filha passaram um tempo fora, mas agora voltaram. A Cooperlix, sem dúvidas, faz parte da história da minha família.

A senhora depende da renda da Cooperlix?

Eu dependo da renda da Cooperlix, mas agora, há quatro meses, estou aposentada. Mas não quero sair da Cooperlix não, aqui eu me sinto bem.

Antes e depois do incêndio que atingiu, em julho de 2018, o antigo barracão da cooperativa, o que mudou?

Hoje, eu acho que a estrutura melhorou. Apesar de termos perdido muitas coisas que estavam no antigo barracão, nós conseguimos ter mais do que tínhamos lá. Temos quatro prensas, compramos ônibus, perua, veio outro caminhão. A sociedade prudentina, o prefeito, os vereadores, nos ajudaram, nos abraçaram. Hoje estamos felizes, estamos estabelecendo metas para conseguir voltar a ser como antes, temos todas as condições de atingir o que tínhamos antes do incêndio, pois estamos trabalhando muito nisso.

Quais os objetos mais improváveis a senhora já encontrou em meio aos materiais recicláveis?

A gente encontra bastante coisa. Encontramos dinheiro, principalmente dentro de livros, as pessoas costumam esquecer lá. Tem gente que encontra joias. Eu, nesses 18 anos, ainda não tive essa sorte (risos), mas tenho sorte de acordar e vir pra cá, e isso já ótimo.

Os 90 cooperados são uma família?

Somos uma família, porque estamos aqui todos os dias. Chegamos às 7h40 e só retornamos às 17h. Vivemos juntos aqui, almoçamos juntos, tomamos café juntos, é o dia todo junto. Existem algumas briguinhas, mas o conserto é bem rápido, afinal, só briga quem se ama.

Qual futuro a senhora sonha?

Nossos catadores estão na rua, catando materiais, sobrevivendo com o valor que conseguimos arrecadar. Aqui temos nosso horário de almoço, café. O ideal seria se nós trouxéssemos esse pessoal com desemprego, que mora na rua, que não tem condições de vida, para fazer parte de nossa cooperativa, para que ele possa mudar de vida, ter uma oportunidade. Esse é meu sonho, o meu desejo.

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