​​​​​​​A advocacia e seu mister

OPINIÃO - Thiago José de Souza Bonfim

Data 01/08/2018
Horário 05:55

Socialmente, quando se ouve mais do que se fala, geralmente, taxa-se de introspecção, entretanto, independente do que se pensa, o importante é que se fale ou responda com precisão. Essa precisão é o que se busca, posto que não há mais espaço para discursos superficiais.

Neste particular, na manutenção do Estado Democrático de Direito, cirurgicamente, a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) sempre será protagonista, não podendo perder tal papel, em virtude dos eventuais apegos puramente pessoais a ascensão política.

A força institucional da OAB, como elemento coletivo na administração da justiça, há que ser revigorada diariamente, sem qualquer tipo de alarde, com o escopo de impedir o intento de se beneficiar o individualismo.

Não se mantém a união contributiva da classe, pautada apenas na vontade do autoproclamado “establishment”, sem uma oxigenação calcada nas boas ideias, no exercício altivo da democracia, na reforma institucional a fim de que a cooperação da classe resulte na reconciliação da OAB com a sociedade, tendo em vista que não se pode olvidar que o advogado como instrumento da própria justiça, antes de tudo é a voz do jurisdicionado.

A história demonstra que em todas as oportunidades ímpares de dissociação social, em que as instituições perderam o devido equilíbrio, a OAB soergueu como reconstrutora da solidez da harmonia que os Poderes constituídos devem manter entre si, e isso, porque se manteve, mesmo em silêncio ensurdecedor, a liberdade de uma classe vocacionada a garantir o fortalecimento de todos os pilares básicos da democracia nacional.

Miguel de Cervantes, autor de “Dom Quixote”, ao narrar as incríveis aventuras e desventuras do nobre cavaleiro e seu fiel escudeiro Sancho Pança, descreveu a seguinte fala do Nobre: “Deixe-o falar...É justo que aquele cujos braços estão imobilizados tenha a língua livre!”.

O que de diferente faz o advogado, senão ser a voz daqueles que tem seus braços imobilizados? Não é por outro motivo, que o advogado é inviolável no exercício de sua função, porém, para que essa inviolabilidade seja solidamente protegida, não se deve distrair pelo discurso efêmero ou do “panis et circencis”.

As boas ideias, a incessante continuidade do trabalho focado no ser humano que exerce a advocacia, o abandono das vaidades, a força da coletividade, em atenção à seriedade da sua função constitucional, é barreira de contenção contra as intempéries corriqueiras no exercício de seu múnus.

A OAB deve sempre convergir para a totalidade, expurgando mandonismos, pois é caminho a ser buscado e não caminho a ser trilhado.

O discurso deve ser amplo, as barreiras devem ser rompidas e os obstáculos ultrapassados. O advogado no exercício de sua função é supra político, não tem partido, posto que se reveste apenas de dois instrumentos, sua fala e sua caneta, para que a justiça seja distribuída no limite e rigor da lei.

O exercício da advocacia é sacerdócio, o advogado é advogado a qualquer momento, em qualquer lugar, hora do dia ou da noite.

A letra fria da lei, insculpida no papel, só se materializa, quando o advogado extrai de seu espírito a ratio. É neste contexto, que a importância dessa profissão, atacada sem piedade e injustamente, merece estar sempre unida, já que o advogado, por natureza, é um ser livre, forjado para trazer luz à escuridão, independente das opiniões contrárias, pois, seu único combustível é fazer prevalecer a pureza da justiça.

Enquanto houver mulheres e homens capazes de levantar da poltrona de seus escritórios e sair do aconchego de seus lares para se ativarem em benefício da sociedade, nunca, repita-se, nunca, essa Nação será desmantela, inobstante o embate de ideias que é saldável para o regime democrático tão jovem quanto o nosso.

Por tais motivos, ao se observar o advogado por intermédio de uma luneta, não se pode enxergar um único indivíduo, uma vez que envolta dele deve haver uma Autarquia fortalecida por outros iguais, cujo remo seja sempre guiado para o mesmo norte.

Até porque, onde houver um direito aviltado, sempre existirá um advogado que se erguerá contra tal ataque, merecendo, para tanto, em sua proteção, uma classe forte e unida, que possa no bom combate, fortalecer as trincheiras quando convocada por qualquer um de seus membros.

 

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