Cotidiano

Sem incentivos, cães-guias ainda não se popularizaram no Brasil

  • 25/04/2019 06:15
  • LIVIA MARRA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Eles são os olhos, companhia inseparável e dão independência, mas poucos deficientes têm um cão-guia no Brasil. Segundo dados do Censo de 2010, o país tem aproximadamente 6,5 milhões de deficientes visuais e cerca de 200 animais em serviço. Falta de incentivo financeiro, carência de voluntários para a socialização do animal e até de treinadores contribuem para esse baixo número. O resultado são longas filas de espera em institutos que oferecem o animal. Para agradecer e lembrar da importância desse peludinho esperto e treinado para ajudar, o Dia Internacional do Cão Guia é comemorado anualmente na última quarta-feira de abril. Além de auxiliar no trajeto, indicar obstáculos e dar mais segurança, eles favorecem a interação, já que muitas pessoas se aproximam para brincar e saber sobre o animal. “Há quase dois meses juntas, a Etna tem me proporcionado uma experiência mágica. Além da companhia, aumentou minha interação social. As pessoas ficam curiosas sobre ela e acabam se aproximando. Nunca fui de ficar muito em casa, mas agora saio ainda mais. Ela me guia super bem, impede acidentes e cuidamos uma da outra”, diz Daniela Elis Fonseca, 40, formada em administração de empresas e atendida pelo Instituto Magnus, de São Paulo. Eles são irresistíveis, mas, quando encontrar um cão-guia na rua, evite desviar sua atenção com brincadeiras. Afinal, ele está trabalhando. O cachorro também é um companheiro para todas as horas. A opinião é do aposentado Carlos Eduardo Alvim, 55. Em depoimento ao instituto, a pedido do blog, ele afirma que só “quem recebe um cão-guia consegue entender o que ele representa”. “Recebi a Jade em fevereiro e desde então foram descobertas a cada dia. Como ela é meu segundo cão-guia, pensei que já sabia de tudo. Porém, cada animal é único e possui seu temperamento (…) Ao mesmo tempo que te traz mobilidade e segurança, é um amigo para todas as horas, companheiro, parceiro. Quanto à Brida, meu primeiro cão-guia, agora aposentada, ainda mora comigo e passeamos às vezes para matar a saudade, porém sem o arreio, para ela se divertir.” Em Pernambuco, a Escola Cão-Guia do Kennel Club do estado faz, em média, duas entregas de animais por ano. O professor Gustavo Tavares Dantas, 43, convive desde 2013 com a golden Aisha, formada no local. “Minha história com Aisha é muito bonita, é de companheirismo. Passei mais de 30 anos andando com uma bengala, sou cego desde os meus dois meses de idade. Andar com uma ajuda de um cachorro foi algo desafiador e apaixonante ao mesmo tempo. Estou há cinco anos com ela e há cinco anos que não saio sem a minha companheira. Ela é um pedaço meu. É um complemento do meu corpo”, diz Gustavo. PERGUNTAS E RESPOSTAS Posso brincar com cão guia na rua? Não. O cão com o arreio está em serviço e isso pode distraí-lo. Qualquer raça pode ser um cão-guia? Não. Raças de pequeno porte não são usadas, porque o animal precisa ter boa estrutura para vestir os arreios e conduzir a pessoa. A escolha das raças varia conforme cada país. Labrador e golden retriever são maioria. Como os animais são treinados? Após os dois meses de vida, os cães vão para a família socializadora, que, ao longo do primeiro ano de vida, têm o compromisso de expor o animal a uma rotina diária com tarefas como andar em transporte coletivo, passear em espaços públicos, conviver com outros animais e pessoas, entre outras atividades, como não subir no sofá, não ficar pedindo comida. Por lei, o voluntário tem direito a entrar com o filhote em todo lugar, como se ele já fosse um cão-guia. Depois, os cães são devolvidos ao instituto para serem treinados como guias —o que leva em torno de 18 meses. A última etapa envolve o deficiente visual, para que se adapte ao novo companheiro. Cães-guia se aposentam? Para onde vão? Sim, se aposentam ente 8 e 10 anos, em média. Na maioria dos casos, ficam com o tutor, como animal de estimação. Se a pessoa não pode ficar com ele, às vezes por questão de espaço, deixa com alguém próximo. Qual a origem dos animais? O Instituto Magnus tem uma maternidade e cães reprodutores. A Escola de Cães-Guias Helen Keller, no Sul do país, também tem sua maternidade para o programa. O Instituto Iris afirma que a formação do animal tem um rigoroso processo de seleção genética, reprodução e nascimento assistido. Mas tem gente que recorre a animais até de fora do país. Quanto custa ter um cão-guia? É um programa social, não há custos para o usuário. Para o Instituto Magnus, um cão-guia entregue custa em média R$ 70 mil, incluindo alimentação, veterinário, vacinas. Já o Instituto Iris estima, em seu site, custo de aproximadamente R$ 35 mil para doar um animal. FONTE: Thiago Pereira, gerente-geral do Instituto Magnus; Instituto Iris, Projeto Cão Guia de Cegos do DF, PremierPet, Escola de Cães-Guias Helen Keller, Fundação Dorina Nowill