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Ministro encontra clima ameno após ser convocado à Câmara
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O ministro da Educação, Abraham Weintraub, colocou a culpa nos governos anteriores pelo congelamento de orçamento na área e voltou a criticar as universidades federais e a minimizar o impacto dos bloqueios de verba.
Weintraub deu esclarecimentos sobre cortes na área no plenário da Câmara nesta quarta-feira (15). Ele foi convocado por parlamentares como maneira de enviar recado ao Planalto. A manobra foi articulada por líderes do centrão, com a ajuda da oposição.
O ministro teve embates com deputados de oposição, o que gerou pequenos tumultos, mas o encontro teve um plenário esvaziado e clima mais ameno do que se esperava.
Isso não significa necessariamente um distensionamento do embate entre Legislativo e Executivo. Parlamentares do centrão dizem, nos bastidores, que a própria convocação já seria suficiente para demonstrar insatisfação e poder. Poupar o ministro de confrontos diretos seria uma forma de não cortar o diálogo com o governo.
Outro episódio que causou tensão com o Congresso foi uma ligação feita por Bolsonaro pedindo recuo do corte ao ministro. O contato ocorreu na terça (14), em reunião do presidente com líderes de PV, Pros, PSC, Avante, PSL e Cidadania ""as siglas, apesar de independentes, ensaiavam aproximação com o governo.
A Casa Civil negou na terça que o presidente tivesse feito o pedido. A líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP), chamou a informação de "boato barato".
Mas Weintraub confirmou a ligação e disse que conseguiu convencer Bolsonaro a manter os bloqueios. "Os deputados ouviram o presidente falando comigo, mas não eu falando com o presidente", afirmou. Segundo Weintraub, ele teria explicado ao presidente que não se tratava de cortes, mas de contingenciamento. Assim, diz, Bolsonaro teria concordado em não recuar.
O contingenciamento no MEC (Ministério da Educação) alcança R$ 7,4 bilhões, com impactos que vão da educação infantil à pós-graduação. Nas universidades federais, o bloqueio foi de R$ 2 bilhões, equivalente a 30% dos recursos discricionários (que não incluem salários).
O clima piorou para o governo depois que o ministro indicou em entrevista que haveria cortes em instituições federais específicas por questões ideológicas, o que ele classificou como balbúrdia.
Após má repercussão, argumentou que o bloqueio de 30% valeria para todas as federais e passou a argumentar que o congelamento era de 3,4% do orçamento total das federais.
No Palácio do Planalto, a avaliação ao longo do dia foi a de que Weintraub não soube explicar de maneira adequada a necessidade do bloqueio de recursos, transformando um problema pontual em uma crise de governo.
Com a força das mobilizações, o receio de auxiliares presidenciais, sobretudo do núcleo militar, é que novas manifestações sejam convocadas nas próximas semanas, desgastando ainda mais a imagem do governo.
No grupo fardado, voltou defesa por uma nova intervenção na pasta da educação, com uma eventual troca do atual ministro. Uma mudança, contudo, é reconhecida pela maior parte dos auxiliares presidenciais como pouco provável neste momento.
Para o núcleo militar, o ministro subestimou o potencial das manifestações e não soube administrar cenário de crise que ele mesmo estimulou.
Na Câmara, em resposta a questionamento do deputado Orlando Silva (PC do B), Weintraub disse que o atual governo não pode ser responsabilizado pelo cenário atual.
"Nós não somos responsáveis pelo contingenciamento atual, o orçamento atual foi feito pelo governo eleito de Dilma Rousseff e [Michel] Temer, que era vice. Não somos responsáveis pelo desastre da educação, não votamos neles."
Para tentar distensionar o clima, afirmou que o governo pretende direcionar para a educação recursos recuperados após casos de corrupção da Petrobras. "Não ficamos parados, uma parte do dinheiro que foi roubado da Petrobras está sendo recuperado e está entrando de volta. [...] Já pode servir de alívio para os reitores", disse.
Um acordo firmado entre a Petrobras e as autoridades norte-americanas permite que R$ 2,5 bilhões de multas sejam destinados à União.
Weintraub volta à Câmara na próxima quarta (22). Ele fala à Comissão de Educação.
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