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Casal supera Covid-19, volta para casa, mas ainda não pode se abraçar
SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) - Ele teve tosse, uma febre persistente e foi internado em 12 de março. Com sintomas semelhantes, ela chegou no hospital cinco dias depois, no dia 17. E foi apenas no último sábado (4) que conseguiram se ver novamente, no reencontro mais esperado em 24 anos de casamento.
Casados desde 1995, o aposentado Antonio Roberto Bião, 72, e a dona de casa Stela Vieira Bião, 57, contraíram o novo coronavírus em uma viagem à Itália. Depois de duas semanas de tratamento em unidades de terapia intensiva do Hospital da Bahia, em Salvador, os sintomas foram, pouco a pouco, desaparecendo.
Ele deixou o hospital no dia 25 de março e já recebeu o resultado negativo do teste para o novo coronavírus. Ela ainda aguarda o resultado do exame. Por precaução, ainda não podem se abraçar.
O casal embarcou para a Europa no dia 23 de fevereiro para uma viagem em família: também foram um filho, uma nora, uma neta e os pais da nora. O grupo desembarcou em Portugal e seguiu para a Itália, onde embarcou em um cruzeiro que percorreria quatro países na costa do mar Mediterrâneo.
Como a epidemia do novo coronavírus começava a se alastrar pela Europa, Israel e Turquia fecharam seus portos e o trajeto da viagem teve que ser redesenhado. A viagem ficou restrita a cidades da Itália e da Grécia.
Já nos dias finais do cruzeiro, o comandante informou que um passageiro austríaco que tinha percorrido um trecho da viagem tinha feito um teste para coronavírus e o resultado tinha dado positivo. Ele tentou tranquilizar os passageiros e disse que as autoridades sanitárias visitariam o navio para uma inspeção.
Dias depois, contudo, Antonio começou a ter tosse e febre. Com o fim do cruzeiro, o grupo seguiu para Roma, onde embarcou de volta para o Brasil.
Ao retornar para Salvador, a febre de Antônio persistia. "Ele tinha uma febre assustadora e calafrios. Começava a tremer tanto que não adiantava nem enrolá-lo no cobertor", lembra Stela. Dois dias depois do desembarque, davam entrada no hospital.
Depois de uma bateria de exames, Antonio foi imediatamente levado para a UTI. Stela voltou para casa, mas dias depois também começo a ter sintomas semelhantes aos do marido. Acabou sendo internada cinco dias depois.
Internados em leitos separados e sem poder se comunicar um com o outro, Antonio e Stela enfrentaram o que consideram os dias mais difíceis de suas vidas.
"Estava começando a me recuperar quando soube que minha mulher também havia sido internada. Foi um choque", relembra Antonio, que chegou a ter um pico de pressão arterial ao receber a notícia da internação de Stela.
Ele precisou receber oxigênio, mas não chegou a ser entubado. O quadro de febre e tosse foi arrefecendo e, já sem os sintomas, teve alta no dia 25 de março.
Em casa, Antonio ficou em isolamento e contou com a solidariedade de amigos, que ligavam em busca de notícias, e de vizinhos, que chegaram até a deixar pratos com refeições na porta do aposentado.
Enquanto isso, no hospital, Stela enfrentou complicações e teve reações alérgicas a medicamentos. Sentia dores na barriga, nas costas e viu surgirem erupções na pele que coçavam e ardiam. Também perdeu o apetite e o paladar.
Isolada no leito da UTI, sentia falta do contato com o marido e filhos. Sua única companhia eram os profissionais do hospital, que a visitavam "usando aquelas roupas de astronauta".
Apegou-se à fé e criou uma rotina de orações. Aos poucos, foi melhorando e sentido menos dificuldade para respirar. No último sábado, já sem os sintomas, estava pronta para voltar para casa.
Ao receber alta, foi cercada por médicos, enfermeiros e auxiliares que a aplaudiram. Deixou com a equipe uma carta na qual relata que, nos momentos mais difíceis, buscou transformar as situações ruins e pensar em coisas boas.
"Precisei extrair de dentro de mim uma força que eu nem sabia que tinha. É muito difícil porque, além de enfrentar a doença, a pessoa fica ainda mais abalada por causa do isolamento. É preciso um controle emocional muito grande", diz Stela.
Apesar da falta do resultado do exame e de ainda manter distância do marido, diz que a presença dele já é um alento.
Comemorando a dupla vitória do casal, Antonio diz que distanciamento de precaução é o menor dos males: "O carinho está no olhar".
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