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Exterior
Anti-Mandela, Mugabe apostou na via do confronto
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Robert Mugabe, ex-ditador do Zimbábue, morreu nesta sexta-feira (6) aos 95 anos em Cingapura, onde passava por tratamento médico. A morte foi comunicada pelo atual presidente do país, Emmerson Mnangagwa, e sua causa não foi informada.
Mugabe assumiu o poder em 1980 e o deixou 37 anos depois, em 2017.
Com a morte de Robert Mugabe nesta sexta-feira, fecha-se um ciclo na história africana, o dos pais da pátria.
Foram-se as principais figuras que levaram dezenas de países à independência no século passado, quase sempre com enorme sacrifício pessoal.
Alguns representantes desse panteão ainda estão entre nós, como Kenneth Kaunda, de Zâmbia, firme aos 95 anos, e Sam Nujoma, da Namíbia, com 90. Mas sua estatura relativa é menor na comparação com Mugabe, Agostinho Neto (Angola), Samora Machel (Moçambique), Julius Nyerere (Tanzânia) e, claro, Nelson Mandela (África do Sul).
Mugabe (1924-2019) era, em muitos aspectos, o anti-Mandela. Ou, numa definição talvez mais apropriada, o Mandela que não deu certo.
A trajetória de ambos tem muitos paralelos. Eram líderes negros em países com minorias brancas que tomaram o controle do Estado e deram início a políticas segregacionistas.
Passaram longos períodos na prisão: Mandela ficou 27 anos encarcerado e Mugabe, 11. Soltos após pressão internacional intensa, assumiram o controle de movimentos de libertação nacional e credenciaram-se como líderes populares. Em determinado momento, na virada das décadas de 1970 e 1980, tinham estatura política semelhante.
Seus caminhos bifurcaram ao se sentarem na cadeira de presidente. Mandela procurou a via da composição com a elite econômica de seu país, até porque tinha sobre si a ameaça constante da principal máquina militar do continente, ainda impregnada por forças leais ao antigo regime.
Foi uma aposta bem-sucedida, que evitou o confronto generalizado, apesar de a transição para a democracia não ter sido isenta de episódios de violência.
Mugabe tinha outros problemas para resolver. O Zimbábue é um país cindido etnicamente, entre a maioria shona e a minoria ndebele, e o presidente adotou uma estratégia de política identitária desde o começo de seu governo que se tornaria a base de seu regime autoritário.
Na eleição de 1980, que preparou o país para a independência, o voto seguiu linhas étnicas e Mugabe elegeu-se com folga. Logo estaria dando início a uma campanha de intimidação nas áreas rivais que deixou mais de 30 mil mortos.
A figura algo sinistra, de óculos pesados e rosto carrancudo, tornou-se com o passar dos anos um ícone do autoritarismo africano. Passou a perseguir a oposição e a imprensa e a controlar as cortes e o Legislativo.
Deixou aflorarem suas inclinações marxistas numa campanha retórica contra o imperialismo ocidental, que teve seu auge na reforma agrária feita na marra e sem compensação aos fazendeiros destituídos, quase sempre zimbabuanos brancos. Isolado internacionalmente e com a economia agrícola desorganizada, o país enfrentou hiperinflação e protestos, reprimidos duramente.
Durante 37 anos ele sobreviveu no poder. Traiu aliados, cooptou possíveis adversários, apostou na divisão da oposição e fez imensos agrados aos militares, base de seu poder. E, é preciso dizer, contou por muito tempo com uma reserva de boa vontade popular à sua figura como liderança que venceu um regime detestável.
Seu mito de vovô libertador era cultivado anualmente em solenidades algo ridículas de aniversário, com bolo, danças e discursos inflamados.
Essa face de puro populismo ficou evidente em junho de 2010, pouco antes da Copa da África do Sul, quando o Brasil foi ao Zimbábue para um amistoso contra a seleção local. Foi um presente para o ditador, então com 86 anos, que viu o estádio lotado de pessoas maravilhadas por estarem vendo de perto a mítica camisa canarinho.
Quando abordado na saída do camarote presidencial, Mugabe falou com exclusividade com a reportagem por quase dois minutos. "É um grande evento para nós. Nos deram uma honra. Estamos muito felizes", disse, para estupefação de seus seguranças, todos armados até os dentes. É possível que tenha sido o primeiro quebra-queixo da história do país.
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